sexta-feira, 11 de julho de 2014

Só dói quando rimos. E rimos.

Um coletivo formado por alguns dos mais completos atores do Pará é autor dos textos básicos, a serem desenvolvidos de improviso, conforme os acontecimentos, no espetáculo “Só dói quando eu rio”, em cartaz no Teatro Cuíra às terças e quartas feiras do mês de julho, sempre às 20 horas. É bom saber que a “função” inicia antes, já no hall do Cuíra, onde várias cenas acontecem, enquanto quem espera toma uma cervejinha esperta e conversa.
A idéia veio de Zê Charone, Adriano Barroso e Cláudio Melo, em um papo onde o assunto era a falta de oportunidades, salas de exibição, a escuridão que a nossa Cultura, e especificamente o Teatro passa, mesmo com uma Escola de Teatro da Ufpa bem ativa, formando técnicos em Artes Cênicas que obviamente não terão onde exercer seu ofício. Em vez de ficar se queixando, melhor é agir, protestar, como fez o Movimento Chega no ano passado, ameaçando, inclusive retomar sua indignação com a aproximação das eleições. Melhor que mimimi é reagir e uma das boas maneiras é com o riso, o deboche, a ironia.

Vieram Paulo Vasconcelos, Ronalda Salgado, Ronaldo Rosa, Ronildo Carvalho, Jefferson Cecim (que retrabalhou maravilhosamente figurinos de outras peças), Astréia Lucena, Leoci Medeiros (nos teclados) e Leandro Lima na Iluminação. Os nomes são conhecidos. Nos últimos 30 anos, talvez, eles estiveram em algumas das melhores montagens de espetáculos apresentadas em Belém e em algumas cidades do Pará. Ao longo desse tempo, os espaços foram minguando, patrocínios sumiram, bem como qualquer política cultural. Os teatros, que antes recebiam grupos com produções ensaiadas durante três meses, por apenas um final de semana, agora também estavam fechados ou cobrando uma diária impossível para quem se atrevia a tentar, sem qualquer verba. Hoje, a situação é que não há datas ou por uma taxa altíssima no Teatro da Paz. No Margarida Schivazzapa, embora espaço público, reaberto após longo período fechado – a não ser para “companheiros”, hoje parece haver um quem chegar leva, sem nenhum estudo de ocupação. Mesmo assim, dito por quem ouviu os próprios técnicos, nunca o teatro esteve tão bem ocupado. O problema é que está funcionando com menos de 30% de sua capacidade técnica. A aparelhagem está encaixotada. Holofotes, caixas, mesas, não dispõem, meramente, de plugs para serem ligados. Será necessária uma licitação, que não deve resultar antes das eleições. O Teatro Gasômetro foi projetado tão bisonhamente que só é ocupado por quem aceita de tudo. O Waldemar Henrique, somente se aparelhagem técnica for levada. O da Estação das Docas, virou até cinema. Restam espaços independentes, administrados heroicamente pelos Palhaços Trovadores, Cuíra e InBust e o “Cláudio Barradas”, da Ufpa. Espaços pequenos, com cem lugares, se tanto, onde ainda comparece um público interessado, mas pequeno, bem diferente do público que assistia aos espetáculos apresentados por esses atores, grandes atores, completos, dominando todos os instrumentos de sua Arte, que agora se juntaram, mesmo doendo, rirem e fazer rir. Riem de si próprios, de nós todos, das autoridades, das imoralidades, dos costumes, não escapando sequer o Círio de Nazaré e suas personalidades. A Direção é de Claudio Melo e a Produção de Zê Charone. Como disse, o show começa no hall do teatro e está imperdível. Afinal, dói, mas rimos. E rimos. E rimos.

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