sexta-feira, 18 de julho de 2014

MIDNIGHT COWBOY

Eu ainda não tinha idade para assistir “Midnight Cowboy”, que passou durante longos meses no Cine Veneza, entre a Urca e Botafogo, no Rio de Janeiro e era o filme do verão em 1969. Na Rádio Mundial, “Everybody’s Talking”, com Harry Nilsson, tocava sem parar.
Foi vencedor de Oscar nas categorias Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Roteiro. Não lembro com quem concorreu, mas é uma absurda injustiça que nem Jon Voight ou Dustin Hoffman tenham ganho Melhor Ator e Coadjuvante. Nem sei como dividir os prêmios. A direção é de John Schlesinger e a trilha, autoria do grande John Barry.
Voight uma grande aposta de galã. Hoffman, após “A Primeira Noite de um Homem”, aguardou alguns anos antes de se decidir por outro roteiro. Ficou parado, indeciso. Escolheu certo.
“Midnight Cowboy” é uma festa de sonhos não realizados. Um tanto pela juventude, que no final dos anos 60, queria Paz, Amor, Música e psicodelismo, experimentar outras sensações. Voight é Joe Buck, rapagão texano que sonha com New York, onde faria amor com as mulheres mais lindas e ricas. Veste-se como um cowboy de boutique e nos primeiros dias, suas cantadas revelam-se toscas, até que encontra Enrico Rizzo, mais conhecido como “Ratso”, Dustin Hoffman, coxo, gay, pobre, vivendo em um prédio abandonado e a ser demolido, sonhando em ir para Miam. Ratso engana Buck. Sem dinheiro, o cowboy vaga por NY até reencontrar o finório. Acabam fazendo uma dupla. Aos poucos, por linhas tortas e absoluta necessidade de amparar um ao outro, surge uma amizade, mais que isso, um amor puro entre duas pessoas, nada a ver com sexo. Eles se unem em atos e golpes que nunca dão certo. São losers, perdedores. Vem o inverno, temperatura abaixo de zero e a tosse que nunca deixa Ratso respirar corretamente, piora. A grande cidade vai engolindo, triturando seus sonhos. Pequenos roubos, doação de sangue, prostituição, tudo por dinheiro, até serem escolhidos a comparecer em uma festa psicodélica, toda filmada. Sai com uma mulher. Pagamento antecipado a Ratso, que já nem consegue andar direito. Funciona. Agora, a mulher quer passa-lo a outras amigas. Tudo vai dar certo? Não. Ratso está cada vez pior. Me leva para Miami. Joe Buck vai atrás de dinheiro. Um homem. Tudo se complica. Talvez o tenha pelo dinheiro. Embarcam no ônibus. Chega na Flórida. Sol, vento, e “Everybody’s Talking” tocando. A música é de Fred Neil, ele mesmo, um loser conhecido no mercado fonográfico. Auto destrutivo, problemas com álcool. Fred não deu certo a não ser por essa canção, cantada por Harry Nilsson, ele, também, um perdedor. Encaixou, além dessa, “Without You” e nada mais. Ouvimos falar dele como companheiro de John Lennon e Elton John em seu período solteiro, quando viviam na farra.

Às vezes invento buscas improváveis e me ponho em campo. Talvez seja uma desculpa para visitar lojas e livrarias atrás do produto que certamente não estará à venda. É o caso de “Midnight Cowboy”. Por alguma razão bem estranha, nunca foi lançado em BluRay. Problemas com distribuidores, direitos, qualquer coisa assim. É um dos melhores filmes que já assisti. O jeito encomendar à Amazon. Bom porque há possibilidade de legendas em português. A composição de personagens de Voight e Hoffman é maravilhosa. Todos os detalhes. Voz, rosto, roupas, trejeitos. Quase não vemos entrega assim nos filmes de hoje. “Midnight Cowboy” é sobre amor entre dois homens. Amizade, fraternidade. Ratso verbalizando mais as condições, Buck agindo, coração enorme e pouco cérebro. As cenas finais são lindas. Que tal rever?

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