A
primeira vez que tomei conhecimento de um merengue, foi “Las Cotorras”, que
tocava todos os dias no “Calendário Social” da PRC5, com Luiz Kalaff. Meu irmão
fez uma paródia e assim, até hoje, nunca esqueci. Depois, já trabalhando na
Rádio Clube, com Haroldo Caraciollo, maravilhoso, insolente, criativo, que
mandava tocar aquelas lambadas, como chamava os merengues que vinham do Caribe,
a maioria com títulos em francês, que não sabia traduzir. Inventavam nomes a
partir da semelhança das palavras, com o português, sempre de maneira
engraçada. Mas, infelizmente, naquela época, eu também estava interessado na
Tropicália, Milton Nascimento, Beatles, Rock Progressivo. Assim, as “lambadas”
eram algo cafona, juntamente com os bregas de Edna Fagundes e outros. Que pena.
O quanto perdi. A influencia da música caribenha, a mistura com o carimbo, e a
Jovem Guarda, geraram o brega. Um grito de socorro vindo do povo, na forma de
melodias fortes, versos com duplo sentido, roupas espalhafatosas, cores
intensas. Vieram os Sonoros e toda uma Cultura que até hoje permanece meio
submersa, como um dialeto, onde para ser bem exato, nós é que somos minoria,
pois o povão todo entende. Mundo de cabeça para baixo. Ando pela Presidente
Vargas e os camelôs ouvem. Quem passa, assobia, murmura. Sabem todas. E quando
o Bento Maravilha passa aos domingos, tocando em volume insuportável aqueles
merengues, até esqueço do volume, vou à janela, vejo gente dançando na rua.
Percussão excelente, naipes de metais fumegantes, contrabaixo tomando conta de
tudo. Os merengues são demais. Qual a razão para essa música brega, que até
hoje tem seus grandes ídolos fora da mídia? Agora há uma nova música brega,
mais moderna, mas a antiga, sobrevive nas festas de final de semana, nos cds
piratas, pen drives, do jeito que for. Se temos uma ótima Big Band de Jazz,
podiam tocar mambos, merengues, também, não?
E
nossos artistas considerados de melhor qualidade? Também foram, desde antes,
seduzidos por Caetanos e Chicos. Talvez para não serem chamados de cafonas, sei
lá. Como seria rica a música paraense se esses compositores desenvolvessem
melodias, letras, a partir da mistura caribenha, carimbó e Jovem Guarda. Mas
não. Continuou o brega, os famosos foram ficando antigos e agora vem uma turma
nova experimentando as guitarradas, treme, alguns chegando bem perto de um
resultado, como Felipe Cordeiro.
E eu
acabei de ler “Os Mambo Kings tocam canções de amor”, de Oscar Hijuelos,
Editora Virgiliae. Ele, filho de cubanos, recria toda a magia das grandes
bandas de mambo, a partir de dois irmãos, que no tempo de Trujillo, partem para
os Estados Unidos onde vivem apresentando-se onde houver um palco, tendo como
ápice a participação no programa “I Love Lucy”, com Desi Arnaz. Nestor, o mais
novo, sofre por um amor que teve ainda em Cuba. Sua melancolia, falta de
iniciativa, seu casamento e sua morte. Cesar Castillo, o mais velho, genioso,
engraçado, típico cubano, totalmente sexual, cantor de boleros e mambos, líder
de orquestra, dançarino encantador, talvez por isso tudo, não conseguindo ser
feliz, nem juntar dinheiro e perdendo um pouco da alegria de viver após a morte
do irmão. Vem Fidel, a comunicação com os parentes fica ruim e ele vai descendo
degraus, amando muito, bebendo muito mais do que deve e em tudo, uma canção, o
único hit, composto por Nestor, “Beautiful Maria of my Soul”. A escrita de
Oscar é voluptuosa, com cenas de sexo em brasa, circunstancias, detalhes, toda
uma cena de cubanos desterrados e seus amores. Virou filme em 1992. Acho que
não passou aqui. Pena.
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