sexta-feira, 4 de julho de 2014

MAMBOS E MERENGUES

A primeira vez que tomei conhecimento de um merengue, foi “Las Cotorras”, que tocava todos os dias no “Calendário Social” da PRC5, com Luiz Kalaff. Meu irmão fez uma paródia e assim, até hoje, nunca esqueci. Depois, já trabalhando na Rádio Clube, com Haroldo Caraciollo, maravilhoso, insolente, criativo, que mandava tocar aquelas lambadas, como chamava os merengues que vinham do Caribe, a maioria com títulos em francês, que não sabia traduzir. Inventavam nomes a partir da semelhança das palavras, com o português, sempre de maneira engraçada. Mas, infelizmente, naquela época, eu também estava interessado na Tropicália, Milton Nascimento, Beatles, Rock Progressivo. Assim, as “lambadas” eram algo cafona, juntamente com os bregas de Edna Fagundes e outros. Que pena. O quanto perdi. A influencia da música caribenha, a mistura com o carimbo, e a Jovem Guarda, geraram o brega. Um grito de socorro vindo do povo, na forma de melodias fortes, versos com duplo sentido, roupas espalhafatosas, cores intensas. Vieram os Sonoros e toda uma Cultura que até hoje permanece meio submersa, como um dialeto, onde para ser bem exato, nós é que somos minoria, pois o povão todo entende. Mundo de cabeça para baixo. Ando pela Presidente Vargas e os camelôs ouvem. Quem passa, assobia, murmura. Sabem todas. E quando o Bento Maravilha passa aos domingos, tocando em volume insuportável aqueles merengues, até esqueço do volume, vou à janela, vejo gente dançando na rua. Percussão excelente, naipes de metais fumegantes, contrabaixo tomando conta de tudo. Os merengues são demais. Qual a razão para essa música brega, que até hoje tem seus grandes ídolos fora da mídia? Agora há uma nova música brega, mais moderna, mas a antiga, sobrevive nas festas de final de semana, nos cds piratas, pen drives, do jeito que for. Se temos uma ótima Big Band de Jazz, podiam tocar mambos, merengues, também, não?
E nossos artistas considerados de melhor qualidade? Também foram, desde antes, seduzidos por Caetanos e Chicos. Talvez para não serem chamados de cafonas, sei lá. Como seria rica a música paraense se esses compositores desenvolvessem melodias, letras, a partir da mistura caribenha, carimbó e Jovem Guarda. Mas não. Continuou o brega, os famosos foram ficando antigos e agora vem uma turma nova experimentando as guitarradas, treme, alguns chegando bem perto de um resultado, como Felipe Cordeiro.

E eu acabei de ler “Os Mambo Kings tocam canções de amor”, de Oscar Hijuelos, Editora Virgiliae. Ele, filho de cubanos, recria toda a magia das grandes bandas de mambo, a partir de dois irmãos, que no tempo de Trujillo, partem para os Estados Unidos onde vivem apresentando-se onde houver um palco, tendo como ápice a participação no programa “I Love Lucy”, com Desi Arnaz. Nestor, o mais novo, sofre por um amor que teve ainda em Cuba. Sua melancolia, falta de iniciativa, seu casamento e sua morte. Cesar Castillo, o mais velho, genioso, engraçado, típico cubano, totalmente sexual, cantor de boleros e mambos, líder de orquestra, dançarino encantador, talvez por isso tudo, não conseguindo ser feliz, nem juntar dinheiro e perdendo um pouco da alegria de viver após a morte do irmão. Vem Fidel, a comunicação com os parentes fica ruim e ele vai descendo degraus, amando muito, bebendo muito mais do que deve e em tudo, uma canção, o único hit, composto por Nestor, “Beautiful Maria of my Soul”. A escrita de Oscar é voluptuosa, com cenas de sexo em brasa, circunstancias, detalhes, toda uma cena de cubanos desterrados e seus amores. Virou filme em 1992. Acho que não passou aqui. Pena.

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