A
partir do convite do amigo baionense Gerson Nogueira, estarei de agora em
diante por aqui, sempre às sextas, as festejadas sextas! Circule pela cidade e
perceba, no ar, uma fumaça proveniente de um sem número de estabelecimentos
dedicados a vender churrasquinhos, espetos e que tais. Todos os lugares estão
lotados, ocupando as calçadas. Seria uma saudade dos tempos que “méleB” era
chamada de “Petite Paris”? Os boulevares com calçadas enormes ocupadas por
mesas, cafés, com as pessoas transitando e mostrando todo seu charme? Quem
dera. Como uma demonstração do caos, da babel em que vivemos, as mesas ficam
muitas vezes direto, no asfalto. Carros, motos, bikes e vendedores circulam. Monitores
de tv mostram gladiadores modernos a se arrebentar eternamente no que chamam de
MMA. Artistas, pensando que fazem show e esquecendo que seu trabalho é somente
fornecer alguma música de background, aumentam ao máximo a potencia de seus
amplificadores e berram por atenção. O cheiro de churrasco contagia, anestesia.
A cerveja completa a festa, com calabresas e outros. A Cultura do
Churrasquinho. É assim que estamos, nesta ausência de Cultura em nossas vidas.
Na Cultura do Churrasquinho, ninguém pensa em nada. Não há refinamento,
pensamento crítico, discussão. Qualquer pedaço de carne serve. Esquenta, joga
um molho, misturado com o suor do churrasqueiro e estamos feitos. Assim a nossa
Cultura. Desaparecemos. A total ausência de Cultura, que já dura vinte anos,
nos levou a um buraco profundo. Para sair de lá, necessitará um bom tempo e
trabalho profissional. No mundo inteiro a Cultura se profissionalizou. Gera
empregos, impostos e mais do que tudo, gera inteligência, sabedoria. Hoje
ninguém vai ao teatro que se faz aqui. Exceção de algum global que se apresenta
no Teatro da Paz com direito a sessão extra. Antigamente, ir ao teatro
significava assistir e depois sair para conversar, discutir o que havia sido
visto. Aos shows, também. Hoje, nos shows, enchemos a cara, pulamos e saímos
carregados. Nossos escritores lançam livros para seu círculo de amizade que
acorre no lançamento. Somente a Fox Vídeo destina espaço para a literatura
paraense. E nem me falem nessa Feira da Secult, vergonhosa, homenageando o
Catar. Catar? Não há reflexão, interesse em discutir. Henrique da Paz me conta
que vinha com sua turma de Icoaraci às sextas para assistir filmes no Cine
Palácio, sessões inesquecíveis onde conhecemos Buñuel, Fellini, Antonioni e
outros. Depois, iam discutir o que havia sido visto. Minha estréia no Teatro,
com “Foi Boto, Sinhá”, em parceria com José Maria Vilar, foi em um Teatro da
Paz lotado. Hoje, temos um público que varia, talvez entre 500 a 800 pessoas.
Quando há um espetáculo, sinto-me como aqueles cristãos em Roma, reunidos nas
catacumbas, às escondidas. Edwaldo Martins apoiava e as vernissages eram
lotadas, chic ter um quadro de Dina Oliveira em casa.
Temos
talento. Atores, escritores, músicos, cantores, pintores. Quando será que
nossos governantes darão à Cultura a importância que ela tem? Colocarão nos
postos de comando, executivos com experiência em fomento, ocupação de espaços,
criação de espaços, neste Estado que, perdoem, tem o tamanho de um país? Como
querem conquistar o Brasil, como aquela turma que levou alguns artistas a São
Paulo, se não conquistam nem seu Estado, áraP, nem sua cidade, méleB?
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