DENTRO
DA CASA
É o
título, no Brasil, do filme de François Ozon, com alguns bons atores como
Kristin Scott Thomas, Emmanuelle Seigner e Fabrice Luchini em destaque. Filme
europeu, francês. Fala-se muito. Pouca ação, mas funciona.
O
professor de alunos entre 14 e 16 anos é casado com uma galerista, sempre em
dificuldades de vender obras de arte moderna. Ele, entediado, corrige redações,
reclamando que escrevem umas três linhas e só. De repente, algo bem maior,
interessante. O garoto vive com o pai que é deficiente e estuda com bolsa. Mas
escreve bem. Observa a família de um colega, classe média. Sabendo de sua
dificuldade em matemática, oferece-se para dar aulas. No texto, descreve o que
viu e o que ouviu. Ao final, arremata com, “continua”. Mas como? O professor se
interessa, escritor frustrado que é. Dá apoio, sugere, corrige, cita famosos
escritores como Flaubert. O garoto, agora, é amigo da família. Enquanto o
colega faz exercícios, perambula pela casa e depois escreve. Ih, o colega vai
se sair muito mal na prova e provavelmente contratarão um professor e acabou a
escrita. Como assim? Sem a observação, acabou. Nesse ínterim, o professor e a
esposa lêem, comentam e acompanham. O mestre rouba a prova, copia e a passa
para o rapaz que tira o máximo em nota. Um crime. Como pôde? Agora, mercê de
sua boa conversa e vocabulário, ao contrário do filho, o rapaz é o melhor
companheiro do pai, um homem de vendas em crise e da mãe, a bela Emmanuelle
Seigner, uma dona de casa entediada e decepcionada com a vida, mas linda. A
corda é esticada ao máximo e há, evidentemente, uma explosão. O que é delicioso
de acompanhar é o surgimento de uma narrativa e suas possibilidades. Uma
sensação maravilhosa que todo autor sente, ao escrever. Os filhos, a namorada,
amigos que por algum motivo lêem originais, começam a opinar, torcer, sugerir,
identificar-se e o autor, senhor daquelas vidas, ou atende aos reclamos ou
segue direto, naquilo que entende ser o melhor e correto, ao que se propôs.
Isso, faço muito. Não gosto muito de finais felizes. O mundo está acostumado
com happy endings. Não o contrario por charme, boutade, mas obedecendo ao que
foi escrito, aquilo que inexoravelmente vai acontecer, claro, se você não for
um Dan Brown, por exemplo, que a cada capítulo precisa submeter as idéias ao
editor, por conta de uma venda de milhões de cópias do livro/produto. O filme
de Ozon propõe discussões interessantes, faz pensar e é muito bom para quem
escreve.
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