sábado, 3 de maio de 2014

Literatura Paraense

O Helder Bentes fez uma postagem muito interessante, provocando os escritores que moram no Pará a uma reflexão a respeito da falta de interesse de patrocinadores, falta de iniciativa, falta de mídia, falta de tudo com relação à Literatura produzida aqui. Paulo Nunes e Alfredo Garcia já contra argumentaram, mas gostaria de também expor minha opinião.
Helder acha que devemos reagir contra essa passividade que aguarda uma movimentação do Governo para que possamos publicar alguma coisa, mas acho que precisa saber que há uma crise em todo o País, com graves problemas de Cultura e Educação. Há poucos leitores, principalmente para literatura nacional. Isso, uma coisa. Trazendo a situação aqui para o nosso Estado, para facilitar e diminuir a discussão, gostaria de dizer que diante da ignorância de nosso povo, da falta de investimento na Educação e Cultura, falta de interesse de uma grande cadeia como a Saraiva, deixando apenas a Fox cuidar disso, já se faz muito. Mas Cultura não se faz somente com iniciativa, vontade de brigar. É preciso profissionalismo, o contrário de política de balcão. Está na Constituição a obrigação do governo em investir na Cultura, dando toda a condição aos artistas de leva-la ao povo e dando ao povo todas as condições para usufruir desta. Secretarias de Cultura precisam funcionar de maneira profissional. Em um Pará deste tamanho, precisa ter sub sedes. Precisa conhecer quais são seus escritores, neste primeiro instante, sem pensar se este é melhor do que aquele. Precisa tornar estes escritores, com obras publicadas, se tanto, conhecidos na região. Precisa publicar editais para o lançamento de livros de novos escritores. Precisa republicar livros importantes, fora de catálogo. Precisa fomentar a criação e funcionamento de um mercado literário. Leva tempo? Sim. O estrago que vem sendo feito há vinte anos é enorme. Mas é preciso fazer. Além das sub sedes, há Belém, onde o processo se repetirá. Só então, promover uma Feira do Livro, onde a festa do livro é a festa do autor local, a essa altura, ao menos, com um frágil mas existente mercado local. Podem vir esses autores nacionalmente famosos, para chamar público, mas também para dividir atenção com os locais, que terão seus livros mostrados em grande stand e também farão noites de autógrafo, palestras, enfim. Assim, Helder, em alguns anos, poderemos considerar a existência de escritores paraenses, claro, os que moram aqui, produzem aqui. A essa altura, uma cadeia como a Saraiva, que trabalha para ganhar dinheiro, atenderá a pressão, vamos chamar assim, à procura por livros de autores locais. O mercado existirá. Isso é Política Cultural, feita por profissionais, técnicos, em prol dos escritores.

Tenho doze livros lançados, a maior parte às minhas expensas, trocando a impressão por propaganda na minha rádio e somente há alguns anos, tive a sorte de ser lançado nacionalmente. Hoje, inicio uma carreira na França, já com dois livros lançados, outros comprados, e também publiquei na Inglaterra, Peru e Mexico. Em diversas outras situações, expus meu raciocínio, minhas idéias. Por isso não concordo com o amigo Alfredo quando este participa, por exemplo, desta vergonhosa Feira Amazônica, onde somente livreiros e autores convidados ganham, estes, grandes plateias, afagos, almoços e jantares, indo embora felizes, enquanto nós, escritores, no máximo, temos um stand deslocado, mal iluminado, triste. A isso, me desculpem, me recuso.

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