quarta-feira, 28 de março de 2012

A Revolução e eu

Eu era uma criança, um bobo na época da revolução militar. Meu irmão Edgar chegou a participar de algumas reuniões, mas começava a ser narrador esportivo e o trabalho tomou todo seu tempo. Lembro um dia em que soldados do exército cercaram o prédio onde hoje ficam clínicas do serviço público, em frente ao meu. O pai ordenou que saíssemos das janelas imediatamente. Haveria comunistas escondidos em algum apartamento. Na minha imaginação fértil, eles deviam ser muito poderosos, perigosos, a necessitar um grupo tão grande de soldados armados, em posição de tiro. É lógico que burlei a vigilância paterna. No final das contas, nada aconteceu, sei lá. Já adolescendo, um bestalhão em aniversário de 15 anos, gabava-se de ter estado na guerrilha, dado tiros, ter enfrentado perigo. Ainda havia resquícios quando encenei “Angelim, o outro lado da Cabanagem”. Fizemos uma sessão à tarde, especialmente para a equipe da Censura. Talvez tenha sido meu momento mais desagradável como autor. Me senti humilhado, agredido e sem poder fazer nada. Meu pai era apolítico. Fui criança pelo maior tempo possível. Adolescente, também. Beber da Cultura não deixava espaço para a Política. Mas fui ler para saber de tudo e no livro “A Revolução Impossível”, de Luiz Mir, famoso jornalista de esquerda, encontrei todas as respostas, contra e a favor, para poder ter uma idéia de tudo o que ocorreu. A partir daí, comprei quase todos os livros que saíram. Recentemente comprei outro exemplar do livro de Mir em um sebo e passei a meu filho. É preciso saber.

Edyr Augusto Proença

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