segunda-feira, 25 de julho de 2011

Marina, Chico César e Laurie Anderson

Os tiozinhos estão bem servidos. Na loucura em que se transformou o mercado fonográfico, grandes nomes da mpb parecem ter ficado sem espaço. Onde seus discos são vendidos se as lojas estão fechando? Onde estão tocando? Como saber se saíram? Talvez lendo jornais e revistas, mídias ainda adquiridas por pessoas acima de 40 anos, talvez. Em outra época, o país estaria discutindo apaixonadamente os novos discos de Marina, Chico César e Laurie Anderson, esta última, inclusão minha. Há os novos de Chico Buarque e Zélia Duncan, mais o de Gal que vem aí. Bela temporada, não?
Marina ainda funciona em trabalhos gravados em estúdio. É claro que ela já deu seu melhor. E sua voz foi embora há muito. Ainda assim, Climax, o disco novo tem bons momentos. Ela descobre acordes bacanas em melodias quase monocórdicas, mas tornadas palpáveis por intervenções de instrumentos. A parceria com Adriana Calcanhoto, na abertura, Não me venha mais com amor, é a melhor. A voz, em estúdio, quase fala, sussurra, mas passa. E o que se passou com Chico César, uma das, digamos, vítimas da morte do cd, das mídias que comentavam para uma turma jovem, tudo o que fazia? Jornalista, Chico gravou o primeiro trabalho e explodiu com sua mistura de ritmos nordestinos com eletrônica, letras que uniam tradição e modernidade com altíssimo bom gosto. Ele foi se encolhendo, mantendo a qualidade altíssima, mas se fechando na música mais tradicional, gravando com orquestras nordestinas e atualmente, sendo Secretário de Cultura da Paraíba. Gostaria de perguntar. Nas vezes em que esteve aqui em Belém, tive a oportunidade de privar de sua amizade e inteligência. No disco da Biscoito Fino, que substitui a antiga MZA, ele registra sucessos acompanhados por sua banda de sempre, mais um quarteto de cordas, penso, com tonalidades próximas da rabeca. Recebe Elba Ramalho, Ana Carolina e Maria Bethânia, esta, em gravação de estúdio. Sua voz, seus olhos de garoto esperto, poeta maravilhoso, cantando seus hits, possibilitando um reencontro com suas músicas que gostamos de cantar junto. Que maravilha, como é gostar de Laurie Anderson. A atual mulher de Lou Reed é uma das minhas paixões desde muito, movido pela curiosidade, quando soube de uma canção estranha, nas paradas americanas, chamada "O Superman". Laurie, artista multimídia, em uma época em que os computadores chegavam ao mercado fazia seu trabalho com um rosto de moleque levado, cabelos como quem leva um choque e uma mensagem poética potente, linda, moderna, agressivamente terna, se me permitem. Usava vocoders, sequenciadores, sua voz curta, quase sussurrando, nunca imaginando ser cantora, apenas mestre de cerimônias, xamã moderno. Flertou depois com as pistas de dança e após circulou pelos EUA com uma proposta sonora e visual, projetando imagens, filmes, cenas. Esteve no Brasil e não posso me perdoar de não ter ido vê-la em SP ou RJ. Andei ouvindo um de seus últimos trabalhos, "Homeland", hoje repetindo os sons de antes, com melhor aparelhagem, claro. São texturas leves, que conduz com seu violino e os poemas, sussurrados, calmos, mesmo os mais agressivos. Que coisa linda.

2 comentários:

Carlos Barretto  disse...

Otimo post.
E Laurie bem como Tom Waits e outros , no mínimo e ainda continuam bem além do "mainstream" dessa época.
Inesquecíveis.

Scylla Lage Neto disse...

Edyr, sou também um apaixonado pela Laurie Anderson e só soube da turnê dela pela América do Sul através de um cartaz que vi no Chile. Dois dias após o show...
Bem, só resta esperar pela próxima vinda.
Para mim, Laurie é única em sua classe.
Um abraço.