Ainda estamos todos traumatizados com a morte de Amy Winehouse, ocorrida no final de semana. Acompanhamos as homenagens, o choro dos pais, do ex-namorado, ainda preso. Seus discos já estão bombando nas paradas. Outros com material inédito também virão. E outros artistas querendo aproveitar uma beirinha. Amy teve uma vida, que mesmo no ápice do sucesso foi muito triste e solitária. Foi uma pessoa doente, que morreu aos poucos, diante da mídia, sem que os esforços feitos para evitar isso tivessem efeito. Só não se pode proteger uma pessoa contra ela própria. Foi o namorado que a apresentou às drogas. Isso ele nunca vai poder se perdoar. Mas penso que mais cedo ou mais tarde alguém ofereceria, ela aceitaria e tudo aconteceria, por conta de sua saúde. Um amigo brincou dizendo que iria assistir seu show no RJ antes que fosse tarde. Em nossa sociedade de espetáculo, passou a ser mais show ela bêbada, drogada, tropeçando, errando letras, caindo de quatro do que seu repertório, que era muito bom. Parecia sempre perturbada, mesmo fora do alcance das lentes. A persona que Mark Ronson inventou para ela a partir de Back to Black era estranha. Bizarra. Obtusa. Aquele penteado, nariz grande e pontudo, queixo idem, olhos com maquiagem aumentando tudo. Um corpo que foi ficando cada vez mais magro, perdendo cintura, quadril, tudo, encimado por seios grandes. E a roupa de prostituta dos anos 60, barata.
Confesso que Amy não me ensejou tanta paixão, ainda que tenha realmente gostado de seu hit “Rehab”. Mais gozado é que nem a banda era dela e sim de Sharon Jones, creio, uma negona que esteve há poucos dias no RJ e SP. Um “produto” muito bem embalado. Agora, ela cantava bacana e suas letras, principalmente, eram ótimas, modernas, ácidas, cruéis, sem self pity. As garotas ouviam e topavam. É com essa que eu vou. Mas aí Amy passou a frequentar mais clínicas de rehab do que desfiles e shows. Será que foi mais um mártir da mídia, ou seja, se esborrachou por nós, bebeu e se drogou por nós, que ao final do dia estamos em nossas caminhas, aquecidos, assistindo Jô Soares? Em nossa sociedade, pagamos caríssimo por jeans rasgados e sujos propositalmente. Compramos a idéia que o gastamos em mil peripécias, vidas, histórias. Amy se arrebentou por nós. Cantava o que queríamos dizer? Drogava-se e bebia por nós? Think about it. Seu maior hit brincava que todos queriam que ela fosse para uma clínica de reabilitação e dizia “no, no, no”. E nós cantávamos em côro. No, no no. Fique em cena e se foda por nós. Talvez ela tenha sofrido ao não conseguir compor outras músicas como as do “Back in Black”. Houve um material que não foi aceito pela gravadora. Onde estava toda a inspiração que estava aqui? Que vinha com a facilidade de um estalar de dedos? Ruy Castro disse que Jimi Hendrix, Janis Joplin, Kurt Cobain, Jim Morrison e Amy Winehouse teriam sido os mesmos grandes artistas senão tivessem sido vítimas das drogas. Eu concordo. Não consigo perceber a influência de Baco na verdadeira criação. Talvez porque não beba nem me drogue. Tomara que Amy agora esteja em paz.
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