Agora que os uruguaios já estão em casa festejando o título da Copa América, o de melhor jogador e espantosamente o de equipe mais disciplinada, talvez seja o momento de debater o que realmente aconteceu no torneio, mesmo que ainda ouçamos o barulho da queda de mais um técnico argentino. Primeiro, algo básico: a Copa América é um torneio de férias. Quase todos os jogadores de Brasil e Argentina vêm de uma temporada estafante, mental e psicólogicamente. Nas outras seleções, há também muitos atletas que jogam na Europa, mas a maioria não atua nos maiores clubes, mais exigidos. Mais ainda, todos as outras seleções têm algo a conquistar. Brasil e Argentina, não, embora os hermanos não conquistem nada há bom tempo e tivessem o torneio em sua casa.
Na Europa, esses grandes atletas atuam em gramados perfeitos e dentro de uma ética dominante, no que diz respeito à intensidade física dos choques. Espero que me entendam adiante. Há um respeito pelo colega de profissão e principalmente pelo público que pagou caro para assistir o melhor. Mas o futebol na América do Sul nem sempre é o mesmo que se joga no Brasil, por exemplo. Os campos são ruins e o que chamam de "raça", "garra", "patriotismo" é, claramente, estupidez, boçalidade, quebra das leis do jogo, da ética e do respeito. Então vêm esses jogadores milionários, cansados, à beira do stress e se reúnem em seleção, onde técnico, dirigentes e imprensa os recebem em alto astral para os grandes jogos. Tudo bem, estar na seleção rende contratos, bons prêmios, vamos lá. A Argentina entra em campo contra o Uruguai. Seu técnico declara que se inspira no Barcelona, mas escala, para fazer companhia ao grande Messi, jogadores que se caracterizam por carregar a bola em lances agudos, como Di Maria e Tevez, por exemplo, ao contrário do Barça, que chega aos poucos, que tem a volúpia do passe curto, rasteiro. A torcida grita pedindo sangue, a bola fica dividida. Do outro lado o Uruguai, com nove jogadores dispostos a tudo, recorrendo a faltas, encontrões, chutes, divididas, mas com dois craques à frente, que recebem cem bolas podres, mas com apenas uma realmente boa, podem fazer gol. Deu no que deu. Eles marcam Messi duramente. Chutam, jogam o corpo, empurram, puxam. Messi não reclama. Se o fizesse, seria acusado de fracote. Futebol é para homens. O juiz também não faz nada. Levanta, levanta, eles passam dizendo. Que jogo é esse em que destruir, de qualquer maneira, é mais produtivo do que construir? E o Brasil com seus meninos mimados? O Paraguai passa a Copa inteira empatando. Não tem um Soares, um Forlan à frente. Empata. Todos atrás. Mourinho fez isso com o Barcelona uma vez e ganhou. Ao final da partida, até Eto'o estava dentro da área dando chutões. E saem vibrando, felizes, ganharam dos melhores. Neymar marcado aos pontapés, agarrões, arranhões, chutes. Levanta, levanta seu garoto mimado. Futebol é para homens. Na Europa, com dez minutos, Uruguai e Paraguai teriam vários atletas expulsos e advertidos. Isso não é jogo de futebol. Entraram no esporte errado. Talvez rugby, aquele em que todos se agarram e se jogam ao chão. E a bola é oval. O time do Brasil não sabia o que fazer. Seus zagueiros, à altura do meio de campo, tornaram-se armadores, sem saber armar, bem como cabeças de área. Ganso sumiu diante dos zagueiros. E os outros? O técnico brasileiro deveria despedir seu empresário. Pior, não deveria convocar atletas que também são empresariados pela mesma pessoa e que, flagrantemente, não reúnem condições para jogar.
Enfim, creio que realmente a Argentina foi mal treinada, mas como o Brasil, mal escalado, dificilmente conseguiria ganhar de Uruguai e Paraguai que, com uma maneira de jogar que não pode ser considerada correta. Com boa arbitragem, não poderia ter acontecido. Com bons campos, também não. Se a América do Sul tivesse alguma importância, já estaríamos pensando em uma mudança de regras. Nos últimos dias, o Palmeiras empatou com o Flamento. O time de Scolari fez um Uruguai, com nove atrás mais Kleber e Maykon Leite à frente. Ao final, 1x1. Joel Santana fez um Uruguai contra o Corinthians e ganhou o jogo de 1x0. Está nas regras? Está, mas termina com o futebol show. Nove, dez ou onze homens, atletas, dispostos a não permitir que o outro jogue, sem se importar em jogar, podem acabar com o jogo futebol. É a vitória da mediocridade. E tem a cumplicidade dos juízes, com seu "levanta, levanta", quase debochando do craque, caído. Deixo pra lá a simulação, porque aqui estamos falando de ética. Mas em nome disso, a destruição do belo não pode vencer sempre.
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