sexta-feira, 1 de julho de 2011
Flamengo até debaixo d'água
Vocês não sabem como já foi terrível ser Flamengo. Ser gozado pelo pessoal do Botafogo a cada final de semana. Era uma época em que o rubro-negro tinha em suas linhas atletas como Onça, um zagueiro destemido e ruim, atarracado e forte, usando calções enormes. Um meio de campo chamado Liminha, horroroso, e um beque paraguaio chamado Reyes. Por sorte, no gol, estava outro gringo, Dominguez, que tendo à frente tão promissora zaga, fazia as vezes de líbero. Mas eu perseverei. Meu pai, diante da deserção do filho mais velho, apaixonado por Garrincha e Didi, do Botafogo, tratou de me presentear com um relógio onde havia, no centro, um escudo do mais querido. Antes, no meu Flamengo de botão, o ataque era formado por Joel Henrique, Dida e Babá, que apenas meu pai havia assistido jogar. Dida era o craque. O camisa dez da seleção brasileira, na Copa de 58, até um garoto chamado Pelé tomar conta da posição. Pouco tempo depois, meu avô Edgar me levou ao Maracanã. Flamengo e Vasco. Não lembro se decidia alguma coisa. O ponta rubro-negro chamado José Ufarte, mais conhecido como Espanhol, fez um golaço e saiu do campo vibrando. Nunca esqueci. Em quase todos os outros grandes momentos, meu pai estava a meu lado, vibrando. Assistimos na tv o recém eleito Márcio Braga anunciar os novos tempos, que vieram com Zico e aquele time inesquecível. Estávamos juntos, colados à tv, juntamente com o saudoso Jocelyn Brasil, quando Nunes driblou o zagueiro do Atlético Mineiro e venceu o goleiro mineiro, dando o campeonato nacional ao Flamengo. Quando Andrade fez o sexto gol da goleada contra o Botafogo. Ou quando Zico bateu aquela falta e o goleiro chileno Wurth ficou olhando a bola entrar, confirmando a Taça Libertadores. E que tal contra o Liverpool, no Japão, começando a festa logo de manhã? Quando o Flamengo vinha a Belém jogar pelo campeonato nacional, lá estava o Edyr Proença com a delegação, com a turma da Fla Fla de Belém, recepcionando, sendo homenageado, todo feliz. Não sei explicar. Será uma combinação de cores no uniforme, que com o sol ou a iluminação noturna, provoca um sentimento de euforia? Cada vez que a equipe entra em campo sinto um arrepio de emoção. Já cheguei a passar mal. Estávamos no auditório da Embratel, quando os jogos ainda não eram transmitidos com essa facilidade de hoje. Flamengo e Vasco. O ponta do Flamengo livra-se de dois ou três e cruza. Zico entra e escora. Flamengo campeão. Todos no auditório levantam-se para vibrar. Não consigo. Algo me deixa preso à cadeira. Quero respirar e não consigo. Disfarço. Não vou estragar a alegria de ninguém. É bom ser Flamengo. É mais uma maneira de lembrar meu pai. Sempre que vou ao RJ, passo na Gávea. Por nada. Para dar uma volta. Para ir à Flaboutique. Lá, comprei a camisa 43, de Petkovic. Era um domingo de sol. Sozinho, assisti o vôo lindo da bola, chutada pelo sérvio, fazendo a curva e entrando no ângulo, dando mais um título. Levantei, quis gritar, mas veio apenas choro de emoção. Como recentemente, Maracanã, Ronaldo Angelim, o feio, magro, tímido e excelente zagueiro, marcando o gol de mais um título. Sou Flamengo e por isso, quando choro, choro de alegria, choro por lembrar de meu pai querido, que pegava o violão e cantava “Flamengo eu sou de coração. Flamengo até debaixo d’água. Quem fala mal do clube campeão. Ou é de inveja ou é de mágoa”. Em tempo, meus filhos são Flamengo.
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