O Curso de Jornalismo, ainda que exista briga sobre a validade do diploma, é sempre um dos mais disputados. Os blogs se multiplicam aqui e ali. Jornalistas são presos, assassinados ou torturados trabalhando em terras distantes, reportando guerras absurdas. Estive por alguns dias em Londres. Além dos seus famosos jornais, impressos ou na internet, um sem número de publicações é distribuída gratuitamente, com notícias de todos os tipos. À noite, assisti a uma mesa redonda maravilhosa, reunindo os editores dos principais jornais ingleses, além da presença de um jornalista do Google. Lembrei do meu Pará, onde a Cultura e a Educação agonizam e com isso, o interesse pelo noticiário, fora corpos despedaçados sangrando, talvez o meu choro por tanta violência a caminho do final do abismo, porque no abismo já estamos. Em uma cidade com quase 2 milhões de habitantes, a tiragem diária talvez não alcance, hoje, dia de semana, a uns dez mil exemplares. E com poucas propagandas veiculadas. Quase todos também já estão na internet, mas eu diria que sua leitura ainda é exígua, comparada ao número de habitantes. O que fazer para chamar de volta esse leitor em papel ou na internet? Talvez falar da vida local. Transformar as grandes pautas nacionais ou internacionais em regionais. Mas para isso, é necessário investir em pessoal. Sem jornalista até se faz jornal, mas muito mal. E nossas empresas jornalísticas preferem apostar em equipamento. Ambos jornais compraram recentemente máquinas moderníssimas, que imprimem jornais em uma velocidade espantosa. Para quê? Para quem? Para que tanta velocidade se imprime apenas dez mil exemplares? Servem os jornais para um exercício fantasioso de poder. Uma ciranda onde o anunciante paga alto e mostra ao cliente. Mas quantos leram? Uma minoria formada por leitores de idade avançada, acostumados aos impressos, agências de propaganda, naturalmente interessadas e funcionários públicos em sua eterna modorra. E mandam recados, criticam o governo, recebem verba oficial, apoiam candidaturas, tão focados em seu jogo que esquecem o principal, a razão de sua existência: o público.
Em Londres, a reportagem acompanha um senhor que distribui jornais em algumas casas de manhã, bem cedo. Entrevista alguns leitores, esses senhores que acordam bem cedo e aguardam avidamente o jornal, como um ritual. Depois, alguém mais novo diz que não lê impressos porque as notícias são antigas, de ontem, demoraram várias horas até serem impressas e entregues. Por exemplo, essa guerra na Líbia. Até o jornal impresso chegar na minha mesa, as notícias já estão velhas. Isso é verdade. Mesmo uma análise sobre a guerra pode estar obsoleta. Na mesa redonda, alguém diz que nenhuma mídia é obsoleta. Sim. É verdade. Às vezes, para raciocinar melhor, é bom ler e reler, com o conforto de um impresso às mãos. Ler um artigo mais longo. Outro jornalista argumenta que o grande problema hoje, com internet, é que ninguém quer pagar para ler. O New York Times, por exemplo, tem uma grave discussão interna sobre o assunto. O jornalista do Google é a favor de highlights das notícias gratuitos. Quem quiser se aprofundar, que pague por um noticiário mais abrangente, afinal, para fazer jornalismo é preciso jornalistas e alguém há que pagá-los. O bom de ter uma assinatura é que você também tem os dados do seu leitor, sabe suas preferências e pode oferecer essas garantias aos anunciantes. E sobre essa profusão de blogs? Achei a resposta muito boa. Hoje, quem quiser tem um blog. Mas quem sabe em quem acreditar? Qualquer um pode postar o que quiser. Emitir opinião. A diferença está no bom jornalismo. O texto bem escrito e acurado. Sim, o jornalista perdeu o monopólio da notícia. Qualquer um pode postar. Há como que uma promiscuidade de notícias. Em quem acreditar? E afinal, iPad e Website, não juntam papel, vídeo e som, um complementando o outro? É sobretudo jornalismo bem feito, por bons profissionais e boa apuração de fatos. Sim, hoje não dá para mentir. Está tudo no You Tube, Orkut, Facebook, Google. Quem vai mentir? Mas também tem uma coisa: não se faz jornalismo somente com twitter. Fazer jornalismo leva tempo para apuração e sobretudo, custa caro. Mas é assim que deve ser feito. Infelizmente, nenhuma dessas opiniões serve para Belém do Pará, onde vivemos uma acelerada volta à selva.
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