sexta-feira, 4 de janeiro de 2019
AS CERTEZAS DE UM NOVO TEMPO
Acho
um avanço, sem querer achar muito por faltar-me um conhecimento técnico melhor,
a Base Nacional Comum Curricular, que está sendo lançada no Brasil. Aos 16
anos, ainda não havia amadurecido e não sabia que carreira pretendia seguir. O
fato é que cursei alguns anos de Engenharia Civil, na UFPa, para enfim
formar-me em Jornalismo, onde me encontrei, já adulto. Se a Base já
funcionasse, desde cedo meus pendores seriam identificados as escolhas
melhores, definindo uma direção. Mais do que nunca, a Educação me parece o
assunto mais importante. Estamos atrasados em relação à maioria dos países.
Temos, diria, gerações perdidas, com analfabetos funcionais, jovens em idade de
trabalho mas sem qualquer qualificação em um mercado cada vez mais exigente.
Segundo o World Development Report 2019, apresentado pelo Banco Mundial, todos
precisaremos adquirir novas competências. Os robôs estão aprendendo cada vez
mais, extinguindo profissões, diminuindo a demanda por empregados. Isso nos
leva para o começo do século XX, Revolução Industrial quando os cocheiros, por
exemplo, perderam emprego para os chaufferes dos carros. E, recentemente, os
fabricantes de máquinas de datilografar, para os teclados dos notebooks. Isso
apenas para citar dois casos. O mundo está em pleno movimento e as descobertas,
invenções são quase diárias, deixando obsoletas coisas que ontem considerávamos
essenciais. Eric Ries, que escreveu o livro The Start Up Way, disse que vamos
utilizar cada vez mais o empreendedorismo como veículo de modernização e
mudança cultural para enfrentar os novos tempos. Ou seja, invente, crie,
ofereça sua novidade, pense. Pensar. Aí reside um dos grandes obstáculos.
Lembram de Henry Kissinger, o Secretário americano que agiu predominantemente
na época da Guerra do Vietnã? Nem todos,
claro. Ele declarou que a cognição
humana está perdendo velozmente seu caráter pessoal. A internet está afastando
as pessoas da História ou Filosofia. Querem respostas rápidas, práticas.
Informação rasteira. Ou seja, não pensamos, não refletimos, não analisamos. E
assim, não formamos opinião própria a partir de argumentos positivos e
negativos, alcançando um equilíbrio. Concordamos com o que nos afirmam. Fica
tudo muito simples e ralo. Sem o conhecimento, sem o argumento, sem a
Filosofia, não somos nada. Qualquer um que tiver minimamente esses
instrumentos, digamos, nos reduzirá a pó em segundos. As frases são cada vez
mais curtas. Se há mais de três linhas ainda avisam “ih, lá vem textão”.. O
resultado está claro nas músicas de sucesso, com letras cada vez mais tolas,
até onomatopaicas. Digital Influencers, jovens que vivem de expor a tolice de
suas vidas para um público que não tem vida. O vocabulário está cada vez menor.
No cinema, apenas as comédias lotam as salas. Ninguém quer pensar. Teatro é
chato. Livro me dá sono. Quero apenas os destaques. Mesmo assim, parece que o
melhor do cinema está nas séries. Está tudo na Nuvem. Ninguém mais precisa ter
cds, livros, dvds. Tudo por streaming. Confesso que nunca pensei que
chegaríamos a isso. Foi tudo tão rápido. Olho para meus poucos vinis que guardo
mais como lembrança, para os cds e sinto que são passado. Nem mais tenho em
casa um cd player, por exemplo. Nesse mundo de velocidade, será que chegaremos
ao implante de dados culturais em nossos cérebros? Porque já percebo a falta de
tempo para alguém sentar e ouvir um cd inteiro, ler um livro inteiro, assistir
a um filme com mais de duas horas. Onde isso vai dar?
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