A
história, datada de 2014 é esplendida, por situar-se em um breve período de
esperanças por melhores dias, em função dos gestos do presidente americano
Obama, em reatar relações diplomáticas e outras possibilidades. Sonho furado.
Trump foi eleito e tudo voltou ao zero. Conde é um policial aposentado, que
vive de pequenos bicos. Sua namorada, cinquentona, é descrita como legítima cubana,
mulher de opinião, com apetite sexual e dotes culinários. Cada um mora em sua
casa. Melhor assim. Também acho. Amigos de uma vida inteira são visitados quase
todos os dias. Reunem-se para comer, beber e ouvir Creedence Clearwater
Revival. Ajudam nas investigações, dão palpites.
Há
sempre um que está prestes a se mandar para Miami, onde já vivem parentes.
Conde fica triste. Se não fomos quando éramos jovens e cheios de sonhos,
conhecer o mundo foi porque éramos proibidos. Agora, velhos, temos mais é que
ficar por aqui, junto aos amigos. Para quê viajar para uma cidade desconhecida,
mundo novo, refazer uma vida que durará poucos anos? Há uma certa melancolia em
todos. A dificuldade em comer bem, beber do melhor, fumar charutos ou cigarros
(Leonardo nem prova outras marcas, tem sempre um maço cubano), casas
arruinadas, ruas esburacadas, engenheiros trabalhando como garçons, médicos
dirigindo carros americanos pré históricos e autoridades vivendo em mansões
maravilhosas, deixadas por seus antigos donos, que fugiram quando Fidel Castro
tomou a cidade. Aposentado, vive de comprar e vender livros antigos,
importantes, encontrados em sebos ou na mão de viúvas que desejam ver-se livres
da papelada colecionada pelo falecido.
O
chefe de polícia é um ex-comandado por Conde. Vivem às turras por ele
investigar assuntos perigosos, expondo-se muitas vezes e sem avisar aos órgãos
competentes. Um antigo amigo de colégio o procura para um trabalho.
Especialista no mercado negro de arte, faz com que o detetive desça aos porões
da cidade, as zonas, diria, vermelho rubro, em termos de perigo, pobreza, fome
e desespero. Eu adorei e recomendo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário