sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

O NOVO LIVRO DE LEONARDO PADURA

Leonardo Padura é um dos maiores escritores da língua espanhola em todo o mundo, tendo recebido, recentemente, o prêmio “Princesa das Astúrias”, a premiação mais importante da Língua Espanhola. Em novembro passado, recebeu o Prêmio Barcino, de novela histórica. Já havia sido lançado no Brasil alguns de seus livros, mas eu não os tinha lido. Isso aconteceu a partir de “O Homem que Amava os Cachorros”, pela Boitempo Editorial, que foi aclamado nacionalmente. Logo depois veio “Os Hereges”, também excelente. Estive ao seu lado, no Recife, visitando a primeira sinagoga do Brasil, o que tem a ver com o romance. E então, a editora relançou os trabalhos com aventuras do detetive Mário Conde, que muitos dizem ser seu alter ego. Quatro livros maravilhosos, na linha noir, mas fundamentalmente nos revelando Havana e cubanos na sua essência, sem cores publicitárias ou políticas. A vida, simplesmente, em seu dia a dia. Também está na Netflix, ainda, suponho, uma série espanhola com as histórias desses livros. Imperdível. Mas é que agora, a Boitempo apresenta seu novo trabalho, “A Transparência do Tempo”, onde mais que uma nova aventura de Conde, Padura se defronta com a chegada dos 60 anos de idade e o que isso representa para cada um de nós. Seus medos, sensação da passagem inexorável do tempo e os poucos sonhos ainda faltando realizar.
A história, datada de 2014 é esplendida, por situar-se em um breve período de esperanças por melhores dias, em função dos gestos do presidente americano Obama, em reatar relações diplomáticas e outras possibilidades. Sonho furado. Trump foi eleito e tudo voltou ao zero. Conde é um policial aposentado, que vive de pequenos bicos. Sua namorada, cinquentona, é descrita como legítima cubana, mulher de opinião, com apetite sexual e dotes culinários. Cada um mora em sua casa. Melhor assim. Também acho. Amigos de uma vida inteira são visitados quase todos os dias. Reunem-se para comer, beber e ouvir Creedence Clearwater Revival. Ajudam nas investigações, dão palpites.
Há sempre um que está prestes a se mandar para Miami, onde já vivem parentes. Conde fica triste. Se não fomos quando éramos jovens e cheios de sonhos, conhecer o mundo foi porque éramos proibidos. Agora, velhos, temos mais é que ficar por aqui, junto aos amigos. Para quê viajar para uma cidade desconhecida, mundo novo, refazer uma vida que durará poucos anos? Há uma certa melancolia em todos. A dificuldade em comer bem, beber do melhor, fumar charutos ou cigarros (Leonardo nem prova outras marcas, tem sempre um maço cubano), casas arruinadas, ruas esburacadas, engenheiros trabalhando como garçons, médicos dirigindo carros americanos pré históricos e autoridades vivendo em mansões maravilhosas, deixadas por seus antigos donos, que fugiram quando Fidel Castro tomou a cidade. Aposentado, vive de comprar e vender livros antigos, importantes, encontrados em sebos ou na mão de viúvas que desejam ver-se livres da papelada colecionada pelo falecido.

O chefe de polícia é um ex-comandado por Conde. Vivem às turras por ele investigar assuntos perigosos, expondo-se muitas vezes e sem avisar aos órgãos competentes. Um antigo amigo de colégio o procura para um trabalho. Especialista no mercado negro de arte, faz com que o detetive desça aos porões da cidade, as zonas, diria, vermelho rubro, em termos de perigo, pobreza, fome e desespero. Eu adorei e recomendo.

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