sexta-feira, 24 de agosto de 2018

SOU UM ESCRITOR, NÃO ASSISTENTE SOCIAL OU SOCIÓLOGO

Acho que foi o grande músico Mini Paulo Medeiros o primeiro a postar uma declaração semelhante à que minutos adiante, também postei. Em nenhum momento pretendi, de alguma maneira, qualquer uma, diminuir a importância da profissão de Assistentes Sociais e Sociólogos. Mas é que a maioria dos raros editais voltados para a Cultura, lançados por empresas ou instituições bancárias, insiste em que os projetos que se inscreverem para ser analisados e finalmente patrocinados, venham acompanhados de exigências de âmbito social, como ligado, por exemplo, ao atendimento dos índios da etnia tal, à cultura amazônica do carimbó de tal município que corre risco de ser extinto, o auxílio à determinada comunidade, enfim. Assim, não dá. A Cultura, os artistas paraenses, das mais variadas áreas vêm sendo torturados, agredidos e humilhados pela inação proposital de um mesmo funcionário público, à frente da Secretaria de Cultura, há mais de vinte anos, além da inação, pior ainda, da Fumbel, Prefeitura, ausente há mais tempo ainda de qualquer plano para o setor. Há quem diga que os artistas querem é vida boa, usando dinheiro público para fazer seus trabalhos. E quando vêm essas exigências de editais, penso que os caras acham “vão pegar esse dinheiro fácil, mas vão ter que também usar para alguma coisa útil”. É como pensam a Cultura. Algo inútil. Diletante. Sou um escritor. Escrevo um livro ou uma peça de teatro. Inscrevo em um edital. Será que devo mudar toda a direção daquilo que pretendo dizer, daquela que é a direção do meu trabalho, para as exigências do patrocinador? Exigências esdrúxulas? E não, não quero viver do dinheiro fácil do contribuinte através das leis culturais. A Cultura é o maior bem dos seres humanos. Vem antes da Educação. Sei que parece até uma piada, dado o momento em que vivemos. Por isso, pela sua importância, cabe ao Estado, à Prefeitura, atuar de maneira profissional, em todas as áreas, visando estimular a criação de um mercado. Isso não se faz nem em um ano. Muito mais. No Pará, sairemos do zero, por exemplo. Quando a Cultura estiver espalhada e mostrada, e recebida e refletida pelo povo do Pará, de Belém, as autoridades começarão a se retirar e apoiar aqueles que por qualquer motivo tenham ficado de fora desse mercado. É assim que precisa ser. Nós, artistas, queremos contribuir para a cidadania, a civilização. Assisti na Bienal Internacional do Livro em São Paulo, uma mesa debatendo feiras literárias. Eram apenas promotores independentes, sendo um de fora do sul/sudeste, Robalinho, de Pernambuco, que corajosamente produz uma Bienal no Recife. Os demais, de Porto Alegre, Ouro Preto, Rio de Janeiro, São Paulo, enfim, cidades onde, por diversas razões, há redes de livrarias e consumo suficiente de autores locais, juntamente com o das grandes estrelas. A Farsa que se chama de Feira Pan Amazônica, promovida pelo Governo, é uma farra para estrelas como Veríssimo e de repente até Paulo Coelho. Mas por ser promovida pelo Governo, deveria ser o ápice de uma programação em todo o Estado, durante todo o ano, relançando livros fora de catálogo, lançando novos escritores e levando os escritores atuais em turnês por cidades pólo. Ao longo do tempo, outras medidas, constituindo uma rede. E aqui, escrevo apenas sobre Literatura, mas vale para todas as outras áreas. Essa noite escura que já dura mais de vinte anos, vai acabar. Torçamos para que venha um outro tempo e consigamos viver dignamente de nossa arte.

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