sexta-feira, 10 de agosto de 2018

IMPRESSÕES DE UM FEIRANTE

Pela primeira vez, fui convidado para ir à Flip, a badalada feira internacional de Literatura, que acontece em Paraty. O convite foi do SESC, como sempre perfeito em cuidados, informação e produção de evento. Cheguei cansado. Depois do jato até o Rio de Janeiro, peguei um ônibus que levou cinco horas até Paraty. Não pude desfrutar da vista porque já estava escuro. Mas ao chegar, encontrei algo parecido como o último dia da festa do Círio, no Largo de Nazaré, permitam-me chamar assim. Uma multidão movendo-se entre tendas e restos de programação. Já estávamos quase à meia noite. Inteligentes, editoras independentes alugaram um barco, onde realizaram a Flipei. Uma pena ter chegado tão tarde, não podendo participar de alguma mesa. Mas já amigos escritores e jornalistas me chamaram e cheguei até um bar, que tinha na frente uma banda musical, gente sentada, a maioria de pé, e um dono extremamente mal humorado atendendo os pedidos. São essas conversas que são deliciosas, com outros autores e jornalistas. Discutimos o que lançamos, falamos do que pretendemos escrever e rimos de tudo. Já era bem tarde quando fomos dormir. No domingo, pela manhã, ainda havia muito movimento e pessoas chegando. Pude apreciar alguns stands muito concorridos. Difícil mesmo é andar sobre as pedras, feitas para o transporte em carro de boi. A palma dos pés dói e tira o astral. As casas são lindas, as igrejas e de repente chegou o momento de falar na Casa do SESC. Me juntei a João Meirelles, um paulista que já mora no Pará há 15 anos, ambientalista, lutando pelos quilombolas, aldeias, a gente que mais pode sentir-se dona da nossa terra. Meu amigo Schnneider, de Pernambuco, onde edita uma revista famosa de literatura, mediou. A conversa fluiu, primeiro porque as pessoas não têm idéia do que seja Belém. É preciso ir lá atrás, circunstanciar, argumentar, falar das riquezas que levam e não deixam nada. Se falo da selva concreta, João fala da selva amazônica. Ambos, falamos de gente. Deu tudo certo, ainda ficamos conversando com alguns mais curiosos. Na volta, de carro, apreciando a costa verde, belíssima. Achei o Rio de Janeiro um pouco murcho, borocoxô, sei lá, tanta coisa acontecendo.

Agora estou em SP, pisando no Anhembi, onde acontece a Bienal de São Paulo, pela primeira vez, a convite da Câmara Brasileira do Livro, através dos adoráveis Luiz Alvaro e Vera Esaú. É um domingo e uma multidão se movimenta em todas as direções. Curiosa a aparição de novas editoras com stands grandes, ao contrário das antigas e maiores como Record. Essas novas apostam em livros de terror e ficção para jovens e livros levemente eróticos, para mulheres. Acho ótimo que leiam, sem juízo de qualidade. Espero que despertem para a leitura e mais tarde, procurem coisa melhor. Estou em uma mesa para falar sobre Mercado, tradução de livros e carreira no exterior. Há duas moças que já batalham, principalmente a que trabalha para o Maurício de Souza, aquele da “Mônica”. E há Guiomar de Grammont, que além de costumeiramente comandar delegações de escritores a vários países, promove em Ouro Preto, sua própria feira e como autora, já recebeu prêmios importantes. A conversa foi ótima. Para mim, como autor, foi importante participar como convidado. Há uma preocupação agora com escritores fora do Sudeste. Mas em todas as mesas, primeiro me apresento, certo que ninguém ouviu falar de mim. Moro longe. Preciso circular mais por aquela região, para ser lembrado. Enfim, cheguei bem cansado, mas foi uma ótima viagem.

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