sexta-feira, 4 de maio de 2018

GRANDE TEMPO!

Nelson e Haroldo Maués foram meus ídolos na adolescência. Irmãos, jogavam basquete no Clube do Remo. O ginásio “Serra Freire”, recém inaugurado, lotava para ver as partidas. Nelson depois trocou o Remo pelo Payssandu em ação muito criticada ou elogiada, dependendo dos lados. Eu também os via jogando futebol em uma pelada que acontecia, acho, às quartas feiras, no Lago Azul, em campo de terra, mas com holofotes. Haroldo, também conhecido por “Manolinho”, era o mais agitado, fazendo muitos lances de efeito. Nelson, mais pragmático, era certeiro. Os jogos do campeonato juvenil brasileiro foram um grande momento. Poucos minutos antes do fim de uma partida, houve uma dúvida se a bola tocara ou não em Haroldo, antes de sair pela lateral. Ele confirmou, naturalmente, e o Pará perdeu. Pior, em outro momento, Nelson, que não atuava pelo Pará e sim na mesa como o cara que toma conta do placar, precisou intervir e dizer a contagem certa, dando a vitória à outra equipe, para desespero dos perdedores. Honestidade, simples assim. Ele lançou um livro sobre sua vida, na boate da Assembléia Paraense. Parecia um álbum de figurinhas antigas. Todas as grandes figuras do basquete estavam presentes, azulinos e bicolores irmanados pela amizade que sempre houve, apesar da rivalidade. E haja lembrar de fatos marcantes, inesquecíveis. Belém era outra, ali da metade dos anos 60 para os primeiros anos 70. Encontrei com Sônia Regina, a quem todos chamam de “Sonhão”. E começamos a lembrar. Naqueles dias, a informação era rara, mas a vontade de viver novos tempos vibrava em todos. No Teatro, era tempo de “Aquarius”, “Jesus Christ Superstar”. Então, aqui, tínhamos o Grupo Experiência, mais pensadores como Luiz Otávio Barata, ainda hoje influenciando tanta gente. Escrevi minha primeira peça, a qual intitulei com a petulância da idade, de “carimbopera”. Era “Foi Boto Sinhá”, com o auxílio luxuoso de José Maria Villar. Gilberto Coutinho vestia a rapeize com sua “Carnaby”, no sub solo da galeria da AP, onde também havia a boate “Porão”, que sonhávamos frequentar, embora ainda não tivéssemos idade. Lá da boate da AP, ficávamos com olhos compridos. Sonia Coutinho era a modista jovem, com mil idéias. Havia também Pampolha, o “Pampy”. Criatividade a mil. E de repente, havia um grande desfile, na rua, com Sonhão, Rui Nobre de Brito, e outras lindas. Quase no final veio o Zeppelin, com meu irmão Janjo e Luiz Braga. Dançavamos disco music na Signo’s Club, com som de Tarrika, Alberto Pinheiro, Floriano até o sol raiar. Edwaldo Martins comandava os colunáveis e badalava os artistas. Eurico Mendes e Juan, o chileno, mandavam nos cabelos das mulheres. E fofoca, muita fofoca. Um número do Zeppelin chegou a ser abortado, apenas por anunciar uma entrevista com Juan, que iria “contar tudo”, em um domingo de julho. As dondocas tremeram. Poderes mais altos se “alevantaram” e foi preciso pensar em outro entrevistado. Foi tempo da 33 ¼, loja de discos que abri, com Floriano, na esquina da Brás com Rui Barbosa. Também dançávamos na Papa Jimi, com uma foto imensa do guitarrista, na porta. Na música, Fafá de Belém começava a aparecer, antes cantando acompanhada do mestre Álvarito, na boate do hotel do Comendador Marques dos Reis. Em julho, a cidade ficava vazia porque todos iam para o Mosqueiro, dançar no Netuno Iate Clube, Praia Bar e no Ariramba. Grandes tempos. A geração dos anos 80 também aprontou muito. A partir daí, acho que o mundo perdeu um pouco do gás. Às vezes acho que a garotada, hoje, prefere bater palmas, na plateia, do que ir para o palco influir na cena. Ah, o livro do Nelson Maués, “De Belém a Xangai”, está à venda na Fox.

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