sexta-feira, 11 de maio de 2018

BOM DEMAIS!

Princesa, hoje vamos para a festa de São João da tia Carola! É, festa de aniversário. Eu sei que já teve festa no colégio, mas essa da tia Carola é festa de verdade. Com fogueira e tudo. Sim. Não tem perigo, é no sítio do seu tio Vavá. Lá não tem problema. Não tem prédio por perto, nada. Pode, pode usar seu vestido do colégio. Pede pra mamãe pintar seu rosto, igual a uma caipira. O que é uma caipira? Bem, é isso aí que fizeram no colégio. Galinha caipira? Bom isso já é um prato, olha, pergunta pra sua mãe que é melhor. Quando chegaram, a casa já estava animada. Carola passava o dia no sítio, preparando tudo. Tinha até banho de cheiro, coroa de São João para quem quisesse, quentão, enfim. Dávamos abraços e acudi minha Princesa. Ela encarava, estática, uma galinha. A cada movimento, observava atenta. Pai, onde bota as pilhas? Ou bateria? Um trio de sanfona, zabumba e triangulo já tocava para alguns dançarem. E pelo meio, passavam feito essas motos no trânsito, crianças correndo, gritando, driblando, caindo ao chão, aos prantos com joelhos ralados, enfim, uma beleza.. Os homens estão em um canto enchendo a cara. As mulheres do outro. Black out. As mulheres gritam. As crianças correm. Todas chamam por todos. A turma da companhia estava regulando o motor de luz. O Ricardinho, que é muito curioso, nem foi brincar. Quis ver melhor o conserto. Para ter equilíbrio, apoiou-se na chaminé, que estava bem quente. Agora aquele bolo de mães em volta dando palpites. Chama o Ademar que ele é médico, né? Mas passou. Agora vai ter show. Show de quem? Os moradores da região têm um boi para dançar. Pai, um boi que dança? Boi bumbá. Você vai gostar. Fica junto do papai. Pai, eles são como a gente? Claro. São diferentes. A cor da pele. As roupas. São iguais. O resto é porque nós somos da cidade e eles são daqui. Pegam muito sol. É só isso. Presta atenção. E o boi dançou pra valer. Palmas, muitas palmas. Adorei, pai. Todos voltaram a seus lugares. A Princesa foi atrás deles, na copa, onde comeram. Tia Carola veio e botou uma coisa dentro da camisa do chefe deles. O boi agora estava de lado, apoiado na parede. Veio a Clara, da minha sala. O Beto quis me beijar. Mentira, mana, me conta. Nem viram, no escurinho, o Bernardo Augusto pedindo pra namorar com a Teka. Uma noite para ser lembrada. Querida, já comeu alguma coisa? Não gosta de aluá? Irc. Tem cheesburger, pizza? Tá bom. O Bernardo Augusto passou com um carão. A Teka deu pau na testa dele! Não zanga, Bebê, há tanta menina bonita por aqui. O pai levantou para fazer um discurso. Tonteou. Não empurra, cara. Ninguém havia empurrado. Também, estavam entornando todas! Vamos passar fogueira? Eu, naquela fogueira de verdade? Nem morta! Quem quer ser minha comadre? Não podia dar certo. Tropeçaram e o fogo deu na bainha da calça do Tio Alfredo. Foi aquela correria. Mãe, ta todo mundo lá no quarto. A Fernandinha bebeu aquele negócio escuro, cheio de planta, que estava na bacia, lá no quintal. Ela bebeu o banho de cheiro! E tem sempre aquele tio com mania de fogueteiro. Enquanto estavam na base da estrelinha e traques, ele chegou com aquele canhão. Uma maravilha. Fica um dia. Abre lá em cima uma cascata de estrelas. E as crianças em volta. Espera aí, Orlando, o pai se pronunciou. Assim já é demais. Isso é perigoso. Tem criança por perto. Que nada, deixa de ser medroso. Medroso nada. Tá bom, mas chama seu Otávio aqui. O caseiro. O senhor tem coragem de soltar esse foguete? Otávio olhou para o artefato, olhou em volta, sentiu a expectativa, encheu-se de brios e aceitou. Afastem-se! Ficou aquele silêncio. A música parou. A correria. A conversa. Seu Otávio no centro, sério, compenetrado. Acenderam o foguete. Fumaça. Disparou. Ih, em vez de subir, desceu ao chão fazendo imenso barulho. A fumaça tomou conta. Seu Otávio sumiu na fumaça. Tio Vavá e papai correram. O senhor está bem? Seu Otávio olhou em volta e gritou: estou soorrdooo!!! A música recomeçou: olha que isso aqui tá muito bom, isso aqui tá bom demais!

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