sexta-feira, 2 de março de 2018
QUARAQUAQUÁ
O
excelente narrador Guilherme Guerreiro, da Rádio Clube do Pará, aos chegar aos
últimos minutos regulamentares de uma partida, diz essa quase onomatopeia, que
deixa ainda mais ansiosos os torcedores, conforme o placar, para uns ou outros.
Sobre a crise dos 40 anos, assisti um filme francês, estrelado pela maravilhosa
Marion Cotillard. Um casal de atores. Ele filma e seu personagem é o pai de uma
bela e jovem atriz. Vão conceder entrevistas. É uma espécie de Tony Ramos
francês, sempre fazendo o galã direitinho, certinho e romântico. Tanto a
repórter quanto a atriz comentam, naturalmente, a chegada dele à faixa da,
digamos, maturidade, não estando mais na lista dos jovens galãs do país. Isso o
deixa revoltado e passa a enfrentar a famosa crise dos 40. Muda o figurino,
cria problemas com o papel, vai para a night e começa a discutir com a esposa.
Esta, pratica o sotaque francês de Quebec, para um filme que faria no Canadá.
Em todas as discussões, a sério, fala com o sotaque. Coisas de quem é casado
com uma atriz. Eu sei muito bem o que é isso. Ele está com raiva de sua imagem
de “bonzinho”. Agora quer ser algo mais “rock”. O filme vai adiante. É uma
comédia que, para os que estão naquela idade ou até já passaram, é de um humor
ácido. Há muitas peripécias e ao final, separados, ela pede sua presença aos
prantos. A essa altura, anda mancando porque praticava para um papel em que a
personagem tinha problema nos pés e também era gaga. Chorava porque havia
perdido o papel. A desculpa é que era velha demais. De fato, é um problema
grave para grandes atores que se acostumaram a ser desejados e festejados por
sua beleza e jovialidade. A transição para outros papeis, talvez até sem ser o
protagonista é sofrida. Muitos homens e mulheres passam por isso, mas creio que
a minha geração vem superando a crise com galhardia. Lembro de fazer os 40 anos
e meu pai me ver um tanto melancólico. Perguntou a razão e lhe disse que era
por ter entrado na casa dos “enta”, da qual não sairia mais. Nunca esqueço da
resposta. Já na casa dos 70 anos, ele me disse “eu era tão jovem quando tinha
40 anos..”. Uma lição. Hoje, mulheres com 40 a 50 anos, são tão competitivas e
lindas que passou a ser a tal crise dos “30 anos”. Enquanto isso, os homens
chutaram os 40 e agora, aos 60 também participam de tudo. Sim, na música tenho
me sentido à parte. Não consigo gostar do baixo nível do que hoje é sucesso.
Meu pai, que veio de outro tempo, em alguns anos compreendeu os novos padrões e
gostava de vários artistas como Paulinho da Viola, João Bosco, Chico e Caetano,
por exemplo. Mas eu não consigo achar qualidades em Anitta, Pablo, Ludmila e
outros. E olha que trabalhei a vida inteira no ambiente musical, identificando
sucessos. Mas meus colegas de idade até devem ir aos shows. Usamos jeans e t
shirts, os quais trocamos com nossos filhos, talvez até netos. O israelense
Yuval, aquele do livro “Homo Deus, disse que as próximas gerações viverão até
os 150 anos. O problema é a geração seguir bem viva e participando. Minha mãe
faleceu aos 95, queixando-se que a maioria das amigas já havia morrido, que o
mundo mudou muito, os costumes, a maneira de pensar. Se é para viver tanto, que
seja com a sua galera de faixa etária. Assim como minha mãe viu toda a
modernização da humanidade, imagino que ainda possa assistir até os carros
voadores, quem sabe? E lendo, vendo, ouvindo, jogando meu futebol e namorando,
por certo. Se o tempo de futebol tivesse 60 minutos, Guerreiro narraria
“Sesserentatá”.
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