Era
uma noite linda de verão. As filas eram enormes, mas lá dentro, dava para ouvir
a alegria reinante. Edu e Márcia já estavam aguardando o show de Anete, cada um
com sua latinha de cerveja. Edu, 18 anos, deu um tempo nos estudos para o vestibular.
Aproveitou o show de Anete para dar uma relaxada, chutar o balde. Márcia, 16,
faria vestibular no ano seguinte. Deixou para estudar no domingo, quando
acordasse, Matemática, prova na segunda. Quando Alfredo chegou, Anete estava
entrando no palco. Edu e Márcia estavam bem na frente. Alfredo, 27, foi
rodeando até ficar próximo. Comprou duas latinhas. Na fila, já havia aberto os
trabalhos. Ia passando um trenzinho. Foi atrás de Linda, de quem roubou o
primeiro beijo da noite. Ã frente dela, José Carlos e Otávio, bem animados,
roubando beijos. Era hit atrás de hit. Paravam apenas para reabastecer de
cerveja. Veio Raimundo e botou um comprimido no copo de José Carlos. Alfredo
era bancário e estava preocupado com o chefe novo que se apresentaria na segunda
feira. Mas naquela noite, era tudo para Anete. Linda, 25, era realmente linda.
Promotora de eventos, no dia seguinte, de emendada, ia trabalhar no lançamento
de um produto no shopping. Mas quando se é jovem, ninguém se poupa de nada.
José Carlos, 20, não trabalhava. Repetia vestibular ano após ano, mas ficava
mesmo era em casa, ouvindo os discos de Anete. Os pais esperavam quando, enfim,
iria amadurecer. Otávio, 32, era vendedor. Engravidou a namorada, casou, deixou
os estudos para trabalhar. Descasou. Juntara dinheiro para o show. Raimundo,
23, traficava ecstasy. Bundeava pela cidade, aguardando os shows para faturar.
Linda
estava passando mal. O trenzinho seguiu adiante, menos Otávio, que ficou
preocupado e foi ajuda-la. Vomitou muito, pediu um tempo e saíram da muvuca.
Ela o abraçou procurando conforto e ele gostou. Quando melhorou, tomou uma
granada de água e o beijou. Ficaram se amassando num canto. José Carlos pulava
como se não houvesse amanhã. O ecstasy pegou forte, misturado com a cerveja. Acabou
esbarrando em um casal e o cara, malhado, deu um soco. Abriu clarão, mas José
Carlos, caído, não oferecia perigo. Levantou e seguiu pulando e cantando. Edu e
Márcia deram um tempo porque Márcia ia ao banheiro. E também porque o Edu
achava que Márcia estava olhando para um bonitão, ao lado. Encontraram Linda e
Otávio. Edu conhecia Linda. Já haviam paquerado. Então Márcia voltou e juntos,
foram lá para a frente. A Márcia de olho no Edu e na Linda, que voltou a beber
e Otávio já estava bem ligado. O show terminou. Mas continuou rolando som
mecânico. O público foi saindo, mas Edu, Márcia, Linda e Otávio continuaram. Tá
bom, vamos. Na saída, encontram José Carlos, com o rosto inchado, mas feliz.
Alfredo estava encostado em um Gol. Era o carro de Linda. Já haviam se visto.
Quem quer carona? Nós estamos indo lá para a Cidade Velha, continuar, sem hora
pra acabar. Todos vibraram. José Carlos avisou que ficaria antes, em Nazaré.
Fica no caminho? Vai todo mundo! Compraram mais umas latinhas. Vocês vão ficar
aí, bebendo? Vamos no carro! Sentaram Linda e Otavio na frente. Atrás, quatro
se apertaram, sendo que Márcia sentou no colo de Edu. Alfredo se acomodou no
bagageiro. Uma farra. Linda ligou o som do carro e ouviram, novamente, Anete.
Márcia estava apagando no colo de Edu, mesmo que rolasse uma leve excitação em
ambos, prometendo, mais tarde, sexo. Os outros contavam piadas. Riam alto.
Gritavam. Era um carro de festa. Linda dirigia rápido. Otávio com a mão em suas
coxas. Na primeira curva, cantaram pneu. Oi! Todos gritaram, felizes. Sem hora
pra terminar! Agora estavam na Avenida João Paulo, em alta velocidade. Havia um
calombo na pista. Para quem estava dentro do carro, não houve tempo para nada.
O mundo virou de cabeça para baixo, choques, tudo ficou escuro.
Edu
tinha prova na segunda. Márcia, prova de Matemática. Alfredo teria um novo
chefe na agência. José Carlos não tinha nada para fazer. Otávio pensava em
bater o recorde de vendas. Raimundo tinha dinheiro no bolso. Eram. Tinham. Que
pena. Vidas interrompidas.
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