sexta-feira, 2 de setembro de 2016
EU NÃO MATEI JOANA D'ARC
Desculpem
o título chamativo. Não resisti à frase do grupo Camisa de Vênus. Vocês sabem
que eu adoro ler romances de capa e espada, gosto adquirido ainda na infância.
O livro “A Donzela e a Rainha”, de Nancy Goldstone não é romance, mas uma biografia bem detalhada
sobre a vida de Joana D’Arc e da Rainha da Sicília, Iolanda de Aragão. Já
passei algumas vezes pela estátua da francesa em Paris e claro, já tinha lido
alguma coisa e visto filme sobre sua vida, mas nada assim tão bem narrado.
Permite que nos dias de hoje, tenhamos uma idéia da mentalidade da época em que
houve a “Guerra dos Cem Anos”. Um breve cenário para localizar o leitor: a
Inglaterra mandava na maior parte da França. Havia uma certa dúvida sobre o rei
do país. Seria Carlos VII, hesitante, permanentemente escondido, com medo de
ser capturado e morto ou Filipe, o Bom, Rei da Borgonha e aliado dos ingleses?
Havia Iolanda de Aragão, sagaz, política, que defendia Carlos VII, casado com
uma de suas filhas. Em uma diminuta e desprezada aldeia, havia uma menina
chamada por um nome que ao longo do tempo se chamou Joana. Virgem, pura,
assistindo missa todos os dias, analfabeta, pastora, começou a ouvir vozes.
Elas diziam que deveria ir até o rei Carlos VII, à frente de um exército
levantar um cerco à cidade de Orleans e depois coroa-lo em Reims. Deus dizia,
através do Miguel Arcanjo. De alguma maneira, isso chegou aos ouvidos de
Iolanda que a mandou buscar. Joana atravessou a França e vários perigos. Vestiu
roupas masculinas, de maneira a ser confundida e diminuir riscos à sua
integridade. Na corte, a lenda diz, sem nunca ter visto o monarca, foi até ele,
diretamente, que procurava esconder-se. Nancy Goldstone comprovou que ela foi
guiada até o rei. À frente de exército, com armadura e tudo, levantou o cerco a
Orleans. Nancy diz que a vitória foi mais dos generais do rei, sendo que ela
animou os combatentes. Coroou o rei.
Queria mais. Veio a política. Inveja. Rei fraco. Foi por conta própria atacar
outra cidade. Foi capturada pelos ingleses. Jogo de interesses. Durante longos
meses, acorrentada, foi interrogada por mestres em teologia. Espantosamente
contra argumentava e desarmava a todos. Usaram de estratagema. Assinou sem
saber ler que nunca mais vestiria roupas masculinas. Uma noite, querendo
urinar, esconderam seu vestido. Por pudor vestiu o traje anterior. Foi
queimada. Tinha 19 anos. A guerra continuou por mais vinte anos. Como predisse,
Carlos VII virou Rei da França e os ingleses expulsos. Finalmente, o francês
mandou rever seu julgamento. Até papas foram envolvidos. O povo lembrou e a
adotou. O dia em que foi inocentada, marca o fim da Guerra dos Cem Anos, embora
alguns combates ainda acontecessem. Joana foi fugaz, mas Iolanda esteve
envolvida em todos os acontecimentos. Casamentos entre reis, guerra, mortes,
resgates e para encerrar as confusões, casou sua neta Margarida com Henrique
VI, da Inglaterra. É muito curioso perceber que Joana, quase claramente, era
esquizofrênica, ouvia vozes que interpretava à sua maneira. E Deus não iria
tomar partido nas brigas daquela época em que tantos morriam a troco de
glórias, dinheiro e poder. Mas o livro de Nancy deixa toda a história bem
clara. Há vilões, sim, como o primeiro ministro de Filipe, o Bom, que agia como
um cardeal Richelieu para Alexandre Dumas. E antes de terminar, deixa evidente
que, desde aquela era medieval, a política já era algo horroroso.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário