sexta-feira, 16 de setembro de 2016

LUZ BRAGA

A “Retumbante Natureza”, tema da exposição retrospectiva de Luiz Braga, no Museu do Estado, é um espetáculo. Lá está o seu melhor, como sempre, em suas várias fases. Sou amigo dele há mais de 40 anos e vi sua genialidade surgir, desde os primeiros momentos em que, junto com meu irmão Janjo, fez seus primeiros shots. Juntos, fizemos o Zeppelin, jornal de amenidades que circulava encartado no jornal de domingo. Além das fotos de capa e algumas seções, Luiz publicava alguns ensaios que até hoje parecem perfeitos. Ele já tinha “o olhar”, o que considero mais importante para qualquer fotografo, muito mais que a técnica, a qual ele já dominava. Fiquei feliz em ter a capa de uma fita cassete com áudio poemas, “Mr. Bentley”, incluída na exposição. Mas não foi somente isso. Há algumas de suas fotos emblemáticas nos livros “Surfando na Multidão”, “Incêndio nos Cabelos” e “Ávida Vida”. Sou um felizardo. Ele sempre fez o seu melhor, repito. Uma vez, chegando para se inscrever a um prêmio fotográfico no Rio de Janeiro, acho, a pessoa que o recebeu, anotando seus dados, percebendo que vinha de Belém, perguntou se ele sabia dos cuidados e detalhes com o material a ser inscrito. Prontamente mostrou seu portfolio, de alto nível. Em sua primeira exposição, creio, no local onde funcionou a boate Signo’s, com trabalhos em p&b, causou tremores por apresentar em fotos modelos com seios desnudos. Logo ele, que, na época, para se sustentar fazia portraits de figuras da sociedade e fotos que ganharam prêmios com agências publicitárias! Ao invés de negar sua procedência, dentro de uma estética que dizia não haver nada, aqui que pudesse ser fotografado, escolheu justamente sua gente, seu lugar. E isso fez diferença. Retratou seu lugar, retratou o mundo. Tornou-se um mestre da luz e principalmente, do olhar. Saía pelos subúrbios, clicando. É preciso muita atenção, velocidade e domínio da máquina para não perder o instante do objeto fotografado. Ao mesmo tempo pensar em enquadramento, tirar partido da luz e o melhor ângulo. Os índios americanos não gostavam de tirar fotos porque achavam que assim teriam roubadas suas almas. É por aí. Nos rostos da mistura indígena, negra e portuguesa está todo o drama da existência humana. Felicidade, tristeza, raiva, atenção, indiferença, escolha. É como se ele roubasse aquelas almas por instantes, preenchendo todo o espaço com aquele momento mágico, o clic. Eles parecem nos olhar. Nos encarar. Fazem perguntas. Procurou os carrinhos de ambulantes e suas luzes difusas, estourando, pintando, até encontrar o tom certo. Essas nossas cores que gritam por socorro, por mais atenção, saúde, segurança, trabalho, educação. Gritam poesia. A primeira parte da exposição mostra trabalhos mais recentes. Já não é Belém, porque ficou difícil andar pelas ruas, com uma máquina poderosa, sem ser atacado. Ou porque a inocência também foi embora. Foi ao Marajó encontrar seu povo, seu mundo, sua alegria. São retratos de homens e mulheres orgulhosos de ser marajoaras, um sentimento superior que notam somente os que vão até lá. Seus olhares buscam o infinito, acostumados que estão a olhar pelos campos sem fim, onde o tempo não se pode, nem se deve contar. E no entanto, repito, eles nos encaram. E percebemos que são como espelhos. Que nos vemos, ali. Nossa essência. Nós somos aquele que está lá. As cores, o parque de diversões, carrinhos de raspa raspa. Sua fase intermediária com filtro noturno para fotos em dias de sol. Costumo chama-lo de “Luz Braga”. Quanta alegria em ver a admiração no rosto dos que estavam lá, apreciando. Saímos de lá querendo mais. Saímos nos reconhecendo. Nossa caboquice, como ele diz. Um retumbante sucesso.

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