Voltando
ao telefonema do editor a Zorg, não posso deixar de dizer que senti como minha
a alegria que ele demonstra ao finalmente ter a certeza de ter sua obra
editada. Eu também já tinha mais de cinco livros lançados às minhas expensas,
através de mil acordos com este e aquele, enrolado por um editor local por
longos meses, quando chegou o email da Boitempo Editorial confirmando o
lançamento do meu primeiro romance, “Os Éguas”. E outra alegria semelhante,
quando saíram na Inglaterra e França. Agora, recebo a notícia da Asphalte
Editions, que vai lançar “Pssica”, também. Já serão quatro livros franceses! Um
dia conto a vocês a piada sobre o escritor que vai para o céu e lá tem o
direito de ir para o inferno e o paraíso. Qualquer dia desses.
sexta-feira, 6 de novembro de 2015
BETTY BLUE
Cada
vez assisto menos a filmes novos. Raramente fico satisfeito. O jeito é rever
aqueles que me emocionaram, que nunca mais assisti, por diversos motivos. Na
Fox, dei de cara com 37o.Le Matin, que no Brasil virou “Betty Blue”,
não sei bem a razão do “blue” aí. Lançado em 1986, fez sucesso estrondoso,
inclusive com sua belíssima trilha sonora, composta por Gabriel Yared se
tornando best seller nas lojas de discos. A película também concorreu ao Bafta
e ao Oscar. Não lembro bem se ganhou algum prêmio. O roteiro é do diretor
Jean-Jacques Beineix, a partir do livro de um escritor francês que eu adoro,
chamado Philippe Djan, que já teve outros trabalhos lançados no Brasil. Quando
estava na França e me perguntaram quais meus autores locais favoritos, dei
sorte ao lembrar de Djan. Seu estilo me influenciou muito. São sempre pessoas
comuns, atingidas por golpes do destino. Aqui é Zorg, que escreveu um livro que
ninguém quis editar. Sem expectativas na vida, mora à beira da praia fazendo
pequenos consertos em casas de veraneio. Uma noite, faz sexo com uma moça em um
bar local. Ela aparece no dia seguinte em sua casa. Foi despedida. Beatrice
Dale no auge da beleza, vinte e poucos anos, uma bomba erótica e linda.
Apaixonada, lê o manuscrito de Zorg e o considera um gênio. Ele é conformado.
Ela, instigante. Parece ter gênio difícil. Largou o emprego. Estão em Paris, na
casa de uma amiga. Ela datilografa o manuscrito. Envia para uma lista de
editores. A espera a angustia. As respostas são dolorosas e negativas. As
explosões de gênio são frequentes. Zorg descobre um remédio em sua bolsa. Ela
não explica. Não toma regularmente. E fazem amor loucamente em todos os
lugares. Agora estão em uma pequena cidade, próxima à Espanha. Cenários lindos,
figurinos e muitos nus. Tomam conta de uma loja que vende pianos, o que enseja
uma belíssima cena onde tocam a música tema, de Yared. Ela acha que está
grávida. Festejam. Não, o médico faz um exame e dá negativo. Isso provoca um
ataque ainda mais forte. É esquizofrênica. À mistura entre a cidade linda, os
campos e a música. À beleza agressiva de Beatrice, que se mostra em todos os
ângulos e a de Jean-Hughes Anglade, vem juntar-se a tragédia, a tristeza brutal
de um amor tão lindo, um quadro de verão que se espatifa. Para culminar,
finalmente, um editor liga e já oferece um contrato para Zorg, que animado,
começa a escrever novamente. Mesmo passado tanto tempo, melhor não cometer
nenhum spoiler. O melhor de tudo é que se trata de uma “versão do diretor”, ou
seja, com várias cenas que foram retiradas da versão inicialmente
comercializada. São 185 minutos de um filme inesquecível.
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