sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

NÓS QUE NÃO ESTAMOS NEM AÍ

O paraense Cacá Raymundo, há muito radicado em Fortaleza e vivendo situação pouquinho melhor em termos de violência, escreveu no Facebook que se tivesse uma chance de morar em Paris, iria imediatamente, por considerar o risco de atentado terrorista muito menor do que o que enfrentamos diariamente nas ruas. Concordo com ele, depois de ler em vários órgãos de comunicação anúncios falando em “Cidade Morena”, “Morena Sestrosa” e outros títulos que a Belém de hoje não merece. O ator e escritor Adriano Barroso acha a mesma coisa. Jantei com um paraense há muito radicado em Joinville e ele me contou da diferença monumental em termos de segurança. Estamos no fundo do poço. Somos os últimos lugares em quase todos os índices apurados. Leio todos os dias nos jornais em assaltos com reféns, muitos feitos nas esquinas das ruas que cortam o Umarizal, zona nobilíssima atualmente, onde passo diariamente. Espero pela minha vez. Dirijo com medo. Olho para todos os lados. À noite, não obedeço sinais de trânsito. Sou um alvo tentador. Classe média, carro bonito. Não uso película. Não considero segurança alguma nisso. A cidade está partida. Não em partes iguais. Diria que dez por cento pertence à classe média e o resto é de uma população sem direito a nada. Carente de tudo. Saúde, Saneamento, Segurança, Educação e Cultura. E sim, somos culpados. Nós votamos. Na época da eleição, deixamo-nos levar pelas promessas/mentiras. Escolhemos um lado por questões paroquiais. Nossa classe média viaja por todo o mundo, geralmente em grupos. Levam consigo a Belém. Ida e volta. Não trazem nada. Não dividem nada com ninguém. Nossos prefeitos são políticos e não administradores. As Secretarias são distribuídas a políticos aliados que por seu lado, cercam-se também de companheiros. Belém não tem planejamento urbano algum. Os bairros não são auto suficientes. As ruas não comportam mais carros. E que ruas! Noventa por cento não tem asfalto, nada. Acabam de anunciar uma segunda parte do tal BRT, embora nem exista primeira parte. Não sou especialista mas já li e concordo que nossa saída está no metrô por superfície. Não há ninguém que possa deter nosso prefeito antes que tudo ainda fique pior? Nós não estamos nem aí. Nossa população trafega diariamente espremida em carroças imundas, padecendo por horas em engarrafamentos absurdos. Estive na Augusto Montenegro dias atrás e é um caminho de onça. Não é rua, avenida, rodovia, nada. Não tem pavimentação, meio fio, calçadas. Vans assassinas desfilam impunes. Motos e bikes zunem em contramão, sem equipamento e carteira. E esse povo não reclama. É tangido diariamente pra lá e pra cá. Pivetões zumbis ocupam as avenidas com seus cachimbos e traficantes agindo às claras. Como suportar isso? Não fazemos nada. A classe média não está nem aí. Sai de seus condomínios de luxo e pisa na lama. A grande, imensa população mais pobre aceita essa agressão diária, essa humilhação, sem dizer nada. Como somos fracos! Bestas! Somos gado domado. E votamos nos caras. E deixa pra lá, não é comigo!

Precisamos de escolas, escolas, escolas. Saúde, saúde, saúde. Cultura, Saneamento. Transformar a cidade em canteiro de obras. Oferecer empregos. Dar esperança. Ter um porvir. E nós não estamos nem aí. Não vamos às ruas. Isso é pros outros. E cantar morena faceira para Belém, hoje, é um escárnio. Je suis Belém?

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