sexta-feira, 7 de novembro de 2014

AH! QUE DELÍCIA DE VIAGEM!

Era um vôo Lisboa-Manaus, direto e na volta, com escala em Belém. Lotado. Houve uma greve de pilotos dias antes e agora era preciso acomodar todos os prejudicados. Entre os passageiros, duas pesquisadoras retornando a Belém após um ano de estudos para pós doutorado em Portugal. Tudo transcorreu muito bem até a chegada em Manaus. Desceram os turistas da Zona Franca, entraram novos passageiros, ficaram à bordo os paraenses, a maioria, gente de meia idade, que foi visitar parentes, estudar, passear. Acompanhavam pelos monitores o vôo e a aproximação de Belém. Mas nada daqueles procedimentos tipo diminuição de altitude, velocidade. O aviãozinho da tv estava, agora, dando voltas sobre a cidade. O comandante avisa que há um problema de iluminação na pista e que aguarda alguns minutos pelo conserto. Nada. Dentro, uma senhora começa a chorar, considerando ser um problema, não revelado, do avião. No monitor, o aviãozinho está voltando a Manaus. Em terra, após passar alguns bons minutos do horário de chegada, o telão diz apenas que o vôo foi para um aeroporto alternativo. Pânico. Como assim? Um representante da empresa diz do retorno da aeronave à Manaus, para irritação geral, sobretudo de passageiros que iriam embarcar. Ele avisa que todos estarão de volta ainda naquela noite, após reabastecer. Não. Passaram pela Polícia Federal e foram acomodados no Tropical Hotel. Não foi suficiente, porque além daqueles que retornavam à Belém, havia passageiros embarcando para Lisboa. No dia seguinte, às seis da manhã, um aviso deu uma hora para todos estarem à frente do hotel para entrar na van que os levaria ao aeroporto. Uma chatice, mas ao menos iriam viajar. Os problemas continuaram. Um reator do ar condicionado pifou. Calor total. De repente, um passageiro começa a passar mal, com vômitos, tontura, alta de pressão. Alguém comenta que pode ser Ebola, medo que toma conta, no momento, sobretudo de portugueses e espanhóis. Correria. Duas aeromoças passam mal, de medo. É preciso que os tripulantes venham socorrer o homem que somente dizia que ia para Barcelona. Mas vem de onde? Fotos foram feitas e enviadas a Belém, solicitando ajuda. Havia gente preocupada em, além do atraso, ficar de quarentena em Belém, sua própria casa. Finalmente, descobriram. Era um biólogo, há três meses na mata amazônica, fazendo pesquisa. Talvez estivesse com malária, febre amarela, infecção estomacal, enfim. Mas o pânico estava presente. O serviço de bordo parou. Mas enfim, o avião pousou. Alívio. De volta à terrinha. Não. Houve mais chateação. Talvez por não terem muitos vôos a fiscalizar, pessoal da Receita Federal resolveu submeter os passageiros a uma rigorosa revista. Após chegar, houve demora de mais de uma hora até todos serem liberados. Abriram malas, pastas, mochilas, mexendo, remexendo, como se houvesse uma real preocupação com contrabando, drogas, sei lá. Às pesquisadoras, foi pedida uma carta confirmando o compromisso em Portugal, cópia do aluguel da casa em que moraram, tudo porque descobriram computadores, nada mais que seus equipamentos de trabalho. E após apresentarem tudo, ouviram o comentário: enfim, vocês me convenceram. E eram quase todos pessoas de meia idade, ansiosas para encontrar seus parentes, trazendo, quem sabe, presentinhos, nada suspeito ou indigno. Esses fiscais precisam de mais sensibilidade, menos mau humor, grosseria. Parecem estar agredindo aquelas pessoas que conseguiram viajar e estão retornando à sua terra. Viva o turismo no Pará.

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