LITERATURA
PARAENSE FORA DO CURRÍCULO DO CURSO DE LETRAS
Minha
amiga Deborah Miranda foi convidada na qualidade de livreira e participou de um
encontro na Ufpa para tratar da possibilidade de maior entrosamento entre a
entidade e as livrarias, para melhor aproveitamento dos alunos. Lá pelo meio da
reunião, um aluno pergunta ao representante da Universidade a razão pela qual a
matéria “Literatura Paraense”, não constava mais do currículo do curso de
Letras. A questão galvanizou o ambiente, pois em seguida a mesma pergunta foi
feita a representantes de outras entidades. Não é um absurdo? Deve haver razões
perfeitamente explicáveis, todo um conjunto de respostas técnicas para isso.
Nenhuma delas me convence. Quer dizer que os universitários de Letras não
estudam a Literatura que é feita em seu Estado? Como podes conhecer o mundo, se
nem conheces a tua vila? Que tipo de profissionais são formados por nossos
cursos de Letras? Sabem tudo sobre Drummond, Ubaldo, Machado. Sabem tudo sobre
Poe, Victor Hugo, enfim. E não sabem nada sobre Haroldo Maranhão, Jacques
Flores, Adalcinda Camarão, Rui Barata?
A
Flipa, Feira Literária da Amazônia, realizada recentemente na Livraria Fox por
alguns escritores locais, buscando, exatamente, maior visibilidade, foi um
sucesso. Ainda hoje, pessoas nem tão enfronhadas em Literatura me perguntam
sobre ela. Na Garapa Literária, perguntei à plateia se nos estava vendo. É
porque nós somos invisíveis. Entramos em uma Livraria Saraiva, por exemplo, e
não estamos em nenhum lugar. Uma amiga me disse, no FB, que encontrou livro de
minha autoria, na estante de autores estrangeiros. Boa, essa. Ao lançarmos
nossos livros, contamos com bom apoio da imprensa. Até vamos a programas de
televisão. Na noite de autógrafos, quase sempre, fora a família e amigos
próximos, poucos aparecem. E após isso, nossos livros têm lugar apenas na
Livraria da Fox. Levaram um dia desses, o filósofo e poeta Antonio Cícero, a uma
cidade do interior, onde realizaram uma Feira Literária. Tudo fora de lugar.
Qual o programa de incentivo à leitura e a autores locais que existe naquela
cidade. Quantas livrarias há na cidade. E qual a razão de levar o irmão e
parceiro de Marina (ótima artista, mas de pequena audiência), filósofo e poeta,
absolutamente desconhecido, até em Belém? E se não há política cultural por
parte do Governo (e nem haverá porque houve reeleição), não estamos sequer nas
salas de aula do Ensino Médio, pior, nem no currículo dos cursos de Letras,
muito menos nas maiores livrarias, e quantas há no Pará? Não é possível.
Continuaremos a andar para trás. Não basta termos os piores índices em todas as
áreas. A bárbarie toma conta e ninguém está disposto a perceber isso. Escrevo
por mim. Enquanto entrego à Boitempo meu novo romance que deve ser lançado
nacionalmente em 2015, obtenho algumas vitórias na França, onde sou traduzido,
enquanto aqui, minha terra, meu lugar, sou desconhecido. Deve ser essa
antipatia para com a Literatura Paraense a razão pela qual nunca ter sido
chamado a qualquer iniciativa dos cursos de Letras. Estava em Saint Malo,
Bretanha, França, em um teatro lotado com 800 pessoas, falando de meu trabalho
e envergonhado em não reunir em Belém, nem 10% disso. Será que sou eu o errado
nisso? E garanto, não por mim, claro, mas os autores paraenses são tão
competitivos quanto qualquer outro escritor, brasileiro ou internacional. Se
você concorda, se você gosta de ler, experimente. Não há contraindicação.
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