É muito
difícil a vida do escritor local. Sem qualquer política cultural para a
Literatura, realizada pelas esferas municipal e federal, lançar um livro é
desafio. É preciso encontrar uma Editora. Há algumas, locais. Normalmente, os
autores procuram uma gráfica e com seus próprios recursos, imprimem a obra. Ou
então são beneficiários de prêmios como os que existem na Academia Paraense de
Letras ou no IAP. Qualquer que seja a maneira encontrada para publicar, o livro
estará fadado a ter uma noite de autógrafos onde irão amigos e familiares, que
a título de “prestigiar”, comprarão o livro. E depois? O encalhe. A Fox é o
caminho. Mas não é o suficiente. Se, infelizmente, lê-se pouco no Brasil,
imaginem um autor paraense. Nos cadernos dominicais, há sempre entrevistas com
figuras da terra, declarando suas preferencias literárias. A maioria é por
auto-ajuda. Ou então, best sellers. Nunca li uma preferencia por autor
paraense. Também não sei do trabalho dos cursos de Letras, a respeito. O da
Ufpa ficou em 14o. lugar, em pesquisa divulgada nos últimos dias.
Com 15 livros lançados, nunca fui chamado, nem nenhum dos meus livros mereceu
qualquer consideração até hoje. Talvez eu não valha nada, mesmo, mas certamente,
posso dizer que sou um escritor paraense. Sem uma política cultural para
fomentar, nunca haverá um mercado. Graças a Deus esse governo aí está de saída,
para nunca mais voltar. Seu único feito foi realizar uma Feira Pan Amazônica do
Livro, que nunca foi mais do que um evento comercial onde as poucas lojas e editoras
montaram toscas barracas para vender livros encalhados, enquanto escritores
famosos nacionalmente vieram se divertir, ser acarinhados pela plateia, visitar
pontos turísticos, comer pratos típicos e voltar felizes da vida. Quanto aos
escritores locais, uma barraca mal colocada, mal iluminada, uma esmola.
Fomentar a Literatura é pensar em popularizar no Estado os autores atuais.
Relançar livros importantes, fora de catálogo. Publicar livros de escritores
iniciantes. Ao final do ano, e não no começo (sob a pueril desculpa de guardar
dinheiro para o Festival de Ópera), realizar uma Feira como um ápice de todo o
trabalho realizado. Talvez, em alguns anos, tenhamos um mercado constituído,
onde o escritor local não será um “estranho no ninho”. Teremos livros importantes
de volta às prateleiras. Novos escritores apresentando seu trabalho e os
atuais, com a mesma importância dos “famosos colegas”. O resto é enganar as
pessoas. É oferecer migalhas. A tal política de eventos que tão mal causou à
Cultura do Pará nesses 24 anos, creio, de burrices e cretinices de gente
despreparada e mal intencionada. Eu posso falar. Tive a grande sorte de ter uma
Editora, a Boitempo que espalha meus livros por todo o Brasil. Em Paris, frente
a 800 pessoas, em um teatro, que foram me ouvir, fiquei feliz e ao mesmo tempo
chateado por não conseguir mover, em minha terra, nem 10% daquele público para
meus livros. Mas eu acredito que tudo possa mudar.
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