O
ano é 1910, Paris e dois jovens escritores, desses bancados pelas famílias,
passando a vida ensaiando livros, bebendo nos cafés e dormindo em camas de
mulheres bonitas. Jules e Jim (Oskar Werner e Henri Serre), austríaco e
francês, eram inseparáveis. O primeiro, romântico, tímido, o segundo um
conquistador. Encontram Catherine (Moreau) e se apaixonam. Ela fica com Jules e
Jim segura sua paixão. Em seu primeiro encontro, ela se traveste de homem e
saem os três correndo, felizes, pelas ruas. É interessante a sugestão
homossexual apresentada. Como se ela estivesse testando-os. Nada como o fogo da
juventude e da amizade recém feita para dar felicidade. Vamos à praia?
Catherine é a rainha. Quando os dois a ignoram perdendo-se em discussão
intelectual, atira-se no Sena. Aos trinta e poucos, Moreau está no auge de sua
beleza. Uma rainha que passa a governar os amigos, conforme seu humor instável.
Vem
a guerra e os separa. Jules e Catherine vão para a Áustria. Participam da
guerra. Ao término, Jim vai visita-los. Muito acontece. Jim e Catherine. Catherine
e Jules. Um ménage a trois que não vai à cama.
Ali
nos anos 80, creio, assisti a um filme chamado “Corações Loucos”, com Gerard
Depardieu e outro ator que, ao que parece, suicidou-se pouco depois. Um quase
remake do “Jules e Jim”. Moreau participa, como que para lembrar. Interessante
porque, tal como no original, anos 60, havia uma leveza, uma pureza nas
relações e a festa da nova amizade na qual todos querem contar sua histórias e
mostrar sua personalidade, ao mesmo tempo que querem agradar aos outros. Amor. Lembro
da cena em que decidem ir à praia. Pegam o trem. Baixa temporada. Invadem uma
casa. Entram nos quartos. Abrem armários. Tiram lingeries. Riem. Filme em
cores. Muitas. Não lembro mais nada.
Hoje,
na minha idade, creio que não farei novas amizades tão fortes assim. Tipo abrir
um feriado na alma em plena terça feira e sair sem destino. Encontrar um
Mosqueiro, Salinas, com as casas fechadas, ninguém nas ruas, a não ser os
residentes. Hoje parece que todos têm pressa. Muita pressa. O facebook,
whatsup, Skype, aproximaram as pessoas, sem dúvida. Estimularam a escrita.
Essas novidades também fazem com que fiquemos, todos em nossos castelos,
protegidos e até mesmo podendo forjar personas. Não temos mais, como antes,
tempo para tomar um café num fim de tarde. O celular nos encontra onde quer que
estejamos. Estamos acessíveis o tempo todo. Viajamos e mandamos selfies. Estou
aqui! Não me esqueçam! Assisti “Jules e Jim” e fiquei melancólico a respeito
daqueles jovens vivendo seu encontro, sua amizade. A alegria, farra,
felicidade. Não esqueça seus amigos. Eles são as testemunhas da sua vida. Escolhidos.
Às vezes nem tudo vai bem. Mas depois melhora. Ah, como era bom.
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