Belém está fora da Copa. Após adiamentos, a Fifa anunciou as cidades que receberão jogos em 2014. Alguma surpresa? Fiz o que pude para não emitir opinião. Quando se é contra, nesta terra, confundem-nos com inimigos. Mas é que não merecemos. Claro que, para um povo tão sofrido, próximo à barbárie, miserável, faminto, desempregado, uma Copa do Mundo seria um alento e produziria alguns trocados na economia informal. Mais de 99%, no entanto, se perderia no meio do caminho. Não merece a Copa nossa elite empresarial, de mentalidade tacanha, recusando-se ao novo, a contribuir para o bem comum, tão egoísta de seus milhões que curte em coberturas, carrões e viagens sem fim, de onde não trazem nada de bom para os outros. Não merece nossa classe política, permanentemente mobilizada para briguinhas de esquina, solapando como pode o progresso do Estado, da cidade, em troca de objetivos mesquinhos. A manchete, editorial e artigos de O Liberal de hoje não são apenas ridículas, mas dignas de um Casseta e Planeta, sem nenhum constrangimento. Não merece a Copa nossa classe de dirigentes esportivos, incompetentes, despreparados, amadores, bobos, pensando ser espertos. Acontecer em Belém jogos da Copa, seria encher essa turma de dinheiro, não realizar de maneira mínimamente decente as obras e nos envergonhar ainda mais.
Copa do Mundo não é futebol e sim, turismo. Manaus é turismo. É sinônimo de Amazônia. Nós, em Belém, não temos turismo, a não ser de negócios, gente que vem trabalhar, doida para voltar. O teto está caindo e ainda há quem esteja levantando um brinde à merda em que estamos atolados. Sinto-me triste. Melancólico. Ando pelas ruas imundas, lotadas de mendigos, camelôs, gente pobre, maltrapilha, em transportes pútridos, e não sei de onde tiro esse amor todo que tenho por Belém, pelo Pará. Ao longo de todos os tempos, lutamos contra nós próprios. Será índole? Não somos empreendedores. Pelo contrário, egoístas, queremos tudo somente para nós. Nada de dividir e imaginar que cresceremos juntos. A culpa é toda nossa. Nós votamos nessas pessoas. Ao invés de votar naquele que pretende fazer o melhor, se é que entre os candidatos há essa possibilidade - não há - votamos naquele que prometeu nos arrumar alguma coisa, algum percentual, contrato, negócio, trocado, emprego, qualquer coisa. Ou meramente porque odiamos o outro, o grupo do outro. Nada tem de ideológico. Nós e os outros. Eles. Nós ganhamos, eles perderam. Nós estamos nos matando. Hoje, somos uma minoria de minoria a pensar no melhor. A grande maioria está abaixo da linha da pobreza. A outra, conta seus tesouros.
Os programas de rádio hoje vão discutir tudo isso exaustivamente. Vão todos chamar Ricardo Teixeira de fedepê, que ele realmente é, listar suas falcatruas, corretamente, se aborrecer, mais uma vez, com o presidente da Federação, que alegremente vai chefiar uma delegação de seleção, cagando e andando para nossa "desgraça", afinal, é seu prêmio por votar em mais uma reeleição, enfim, esperneios. Perdemos. Não merecíamos. Meu choro é por um futuro melhor, uma cidade mínimamente digna, um Estado a altura de seu potencial. Meu choro é porque não vejo solução. Não há futuro. O choque de agora, provocou apenas esses resmungos imbecis. Adiante, quando as obras se espalharem, pode ser que o estrondo da bomba chegue até nós. Quem sabe, depois desse desastre monumental que nos rebaixa em todos os sentidos, passemos a reconstruir algo melhor, justo, honesto, moderno, empreendedor. Nossos bisnetos merecem...
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