sexta-feira, 11 de outubro de 2019
FODA-SE 1
Os
tempos em que vivemos. Não publicarei mais, às sextas feiras, minha crônica
“Cesta” em O Diário do Pará. Atendi a um convite do amigo Gerson Nogueira,
então editor do jornal em outubro de 2014. De lá para cá, foi um exercício
criativo e gostoso. Creio que nunca faltei. Cheguei a pensar em selecionar
algumas para publicar em livro. Seria o “Crônicas da Cidade Morena 4”. Seria?
Sei lá. Quem sabe? Meus poucos cabelos são brancos e lá se vão 40, quase 50
anos como jornalista em diversas funções. Muitas peças de teatro. Livros que,
com sorte, tiveram reconhecimento nacional e melhor ainda, traduzidos e
lançados na Inglaterra e na França, nesta última com algum destaque. Nada disso
parece fazer qualquer diferença, merece propiciar alguma reverência a alguém que
decidiu cortar um parágrafo inteiro de uma crônica, onde narrava minha passagem
por Parauapebas, participando de uma Feira do Livro, promovida pela Secult,
desbravando esse gigantesco Pará em uma cidade de poucos paraenses e um
sentimento quase nada de pertencimento a uma cultura, uma terra, região. O
trecho cortado referia-se ao sentimento de orgulho, até empáfia que talvez
tivéssemos, se das riquezas gigantescas que são levadas diariamente daqui, nos
coubesse, Pará, a digna remuneração. Somos o Estado potencialmente mais rico do
Brasil e economicamente um dos mais pobres. Contratos espúrios, determinados a
partir de Brasília, certamente com a pressão de grandes interesses e penso, a
falta de uma justa e firme posição paraense, resultaram no que somos. Um almoxarifado.
Leio jornais do Rio e SP, onde vários deitam saberes sobre uma terra onde nunca
estiveram. O governador Helder Barbalho foi bem explícito ao falar nisso em boa
entrevista na Globonews. Pois é, cortaram, certamente temendo de alguma maneira
ferir os interesses do jornal diante do patrocinador que nem precisa ser
mencionado. Mas era uma crônica, assinada, ou seja, com autor definido, sem
expressar se for o caso, a opinião do jornal. Cortaram. Não me ligaram, sequer
argumentando tipo “e aí, que tal mexer aqui e ali, troque isso por aquilo”.
Nada. Soube do corte ao ler a matéria. Um desrespeito. Um foda-se a quem
escreve desde 2014, sem falta. Foda-se, não escreva mais. Pensam se entraram em
contato, ao menos dizendo, obrigado por sua participação, valeram todos esses
anos e tal? Não. Foda-se. Sou um qualquer. Bem, sou um qualquer, como qualquer
outro, mas todos merecemos respeito. Isso não tive.
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