Uma
das maldades foi fatiar a gestão da Cultura em diversos órgãos. Assim, geridos
por pessoas que pouco entendem do assunto, cada um foi atirando para seu lado e
ninguém acertou o alvo. Acho que essa era a idéia, assim como, principalmente,
separar a Fundação da Secult. O reizinho ficaria em seu trono e a Fundação
distribuía minhocas a seus apaniguados. Trabalhei com Guilherme de la Penha e
ele dizia que tinha a importância de ser Secretário e a agilidade da
presidência da Fundação. Penso que a Secretaria é o órgão máster. Dela parte
toda a política a ser desenvolvida e cada uma das outras partes converge, atua
para um único objetivo. No meu pensamento, até a Funtelpa estaria debaixo do
guarda chuva.
Estamos
recomeçando tudo. Do zero. O orçamento deste ano já está comprometido. Mas
deixemos todos esses dias para reconstruir estruturas. A Prefeitura, há mais de
30 anos, afastou-se da Cultura. Sua Fundação, hoje, cuida apenas das quadrilhas
juninas. Até a Lei Tó Teixeira está parada. Seu presidente, que se diz músico,
não conhece os músicos locais. Nem nós o conhecemos. Como chegou ao cargo? Com
esse afastamento, passamos todos a exigir da Secult, ações que estão ou
deveriam estar no âmbito da Prefeitura. A Secretaria do Estado tem mais de
cento e trinta municípios para atender, formular uma política, estruturar algo
que pode dar resultados em dois, três anos. Começar do zero. Tudo foi destruído
em termos de organização. O Pará tem o tamanho de um país. Paciência. Nós, da
Cultura, que nunca fomos muito unidos, nos distanciamos mais ainda. Quem dera
um Luiz Otávio Barata, hoje. Foi cruel. Imaginem quantas carreiras passaram
esse tempo todo sem qualquer alento. Quantos desistiram. A Educação também
emburacou. Por isso todo esse caos. A Secult está recomeçando, mas nós nunca
paramos. Não paramos. Ninguém nos deteve. Temos músicos magníficos. Atores
maravilhosos. Artistas plásticos, escritores que participam da Flipa. Até
cinema. Foi difícil. Muito. Sem apoio oficial. Sem a compreensão que a Cultura
é um bem de todos e essencial para a formação de cidadania. O resultado está em
todo país, mas me preocupo essencialmente com o Pará. Com Belém. O Teatro
sobreviveu em espaços alternativos. Músicos voltaram aos bares cantando
qualquer coisa. Artes Plásticas em guetos. Escritores aproveitando a internet e
a Flipa. Não morremos. Não nos mataram. Mas há quanto tempo não lotamos espaços
para ouvir música que faz pensar? Peças que pedem reflexão? Filmes
inteligentes? Isso ficou perdido? Estamos recomeçando. Não acho que tudo esteja
bem. Por isso deu vontade de escrever essas linhas aqui. Nós existimos. Fazemos
Arte para o bem comum. Para melhorar o mundo. Não fazemos por dinheiro mas
precisamos pagar as contas, o super mercado. E ainda nos exigem 50% nos
ingressos para estudantes. Há muito a fazer. Vamos recomeçar.
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