sexta-feira, 14 de setembro de 2018

UM MUSEU PESSOAL


Um cenário desolador. Luzes acesas revelando um local onde muitos sonhos de riqueza, a maioria,não aconteceram. Havia garrafas de bebida, aqui e ali, em mesas luxuosamente montadas, com toalhas bonitas, cadeiras confortáveis. Andamos por entre as roletas, baccarat, aparelhos de vídeo que publicavam resultados aqui e ali.
O porteiro me disse que meu amigo ia mandar me buscar às nove da noite. Esperasse na portaria. Assunto do livro. O carro veio e fui, vendado, mas sabia onde iria.
Chegamos a uma sala em um tipo de sobreloja, grande, com uma enorme mesa circular e espaços para serviços de restaurante e bar. Uma cozinha já meio antiquada para os equipamentos de hoje. Depois, fomos através de um corredor, até outra sala, não, um quarto, luxuoso, cama grande, aparelhos diversos, de som a tv, banheiro totalmente pronto com jacuzzi hidromassagem. O Bronco perguntou se estava satisfeito. Havia poeira e ele tinha rinite. Posso voltar aqui sozinho? Não. É só hoje. Esse é meu museu pessoal. Guardo tudo como era. Mas é só meu. Se te mostro é porque entendi o teu barato de escrever. Mas também preciso novamente te avisar pra não chegar próximo do meu negócio. Fica na tua. Escreve teu livro. Respeito gente de letras. Mas já te disse, meu negócio é sagrado. Garanti a ele que não estava procurando nada que o envolvesse. Neste momento, isso não é meu assunto. Agora me diz, o que tu tens a ver com esse lugar aqui? Te conto mas isso se esgota aqui, tá bem? Não quero levantar lebre sobre minha pessoa, de onde vim e coisa e tal. Já gasto uma boa grana pra manter uma turma aí sossegada, sem perturbar. Trabalhei com ele. Ele quem? O Seu Clayton. Ah. Foi meu primeiro emprego o de garçom. Fui aprendendo, melhorando e fazendo amizade. Sabes que amizade é tudo nessas horas. Ele confiava em mim. Então passei a servi-lo pessoalmente. Sabia de tudo o que ninguém sabia. Infelizmente, não percebi aquilo que estava acontecendo bem próximo. Ele também não sacou. Depois de tudo ele foi deixando esse cassino morrer, perdeu o gosto e tudo acabou. Mas isso tu já sabes, não é? É, já sei. Mas encontrar o lugar foi importante. Te agradeço. Não te preocupa. Será ficção a partir de algo passado há tempos atrás. Tu estás sendo legal comigo, fica tranquilo, na boa. Meu assunto é escrever ficção. E só.

Ah, Carmen, Carmita querida! Essas tuas perdas estão ficando cada vez maiores, minha flor. A tua sorte é que tenho um fraco por ti. Vamos lá para a suíte ficar à vontade? Logo mais o cassino fecha e tu ainda precisas voltar pra tua casa, não é? Olha que aquele teu marido ainda vem todo rebarbado falar comigo.. Que nada! O Sérgio não quer saber de mim. Vive de plantão, médico de UTI, sempre salvando vidas, na pressão. Ele nem consegue mais, sabe, né? Minha querida, isso não vou discutir contigo. Ari? Ari? Manda dois duplos lá pra suíte que eu vou pra lá com a Carminha. Foi ao banheiro fazer um xixi. Olhou-se no espelho. Ainda muito bonita a Rainha das Rainhas da Assembléia Paraense, não? Um pouco de cansaço no rosto. Noite infeliz na roleta e alguns Walkers a mais na cabeça. Paciência, em noites de azar, acaba na cama do grande Clayton. Perdeu, tem que pagar. Tirou a roupa, deitou-se na cama e virou ao contrário, no criado mudo, uma foto de Clayton e sua esposa Ann Marie, mais os filhos, ainda crianças. Sua boba! Clayton já chegou com os dois duplos. Brindaram, beijaram, mas na hora de fazer, ele pediu que ela ficasse de costas para ele. No ato, só pensava em Paula, Paulinha, baby, baby, você ainda será minha.

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