sexta-feira, 13 de abril de 2018
O HORROR. O HORROR.
É
claro que estamos em guerra civil. Os números mostram. Enquanto isso, o
Secretário de Segurança, de maneira irresponsável, demonstrando até um certo
escárnio, declara andar pelas ruas tranquilamente, sentindo-se seguro. Mas após
assistir ao documentário “Os Últimos Homens em Aleppo”, que concorreu ao Oscar,
fiquei chocado. Nada é esclarecido sobre que facção mulçumana é aquela, nem
possíveis combatentes são mostrados. Somente a ação da organização Capacetes
Brancos, que simplesmente ajuda a todas as vítimas dos bombardeios. Ahmad e
Mahmoud são irmãos. Abu Youasef tem mulher e filhos. A cidade está em ruínas.
Carcaças de prédios. Creio não ser possível reconstruí-la. Precisariam demolir
os esqueletos de concreto e depois levantar novos edifícios. Não dá. Tudo é
poeira, pó, fumaça, destroços. Eles mostram os jatos russos que atacam e
despejam bombas. A visão delas, à noite, feito fogos de artifício, caindo,
mistura o belo e o trágico. Eles trabalham febrilmente, cavando com pás e mãos,
encontrando sobretudo crianças. Algumas estão mortas. Outras, com ferimentos
graves na cabeça. Cenas terríveis. Um tempo depois, os capacetes brancos fazem
uma visita à casa de uma das crianças. O pai conta que perdeu três filhos. O
sobrevivente agarra seu salvador, agradecido. O olhar desses meninos é de
perplexidade. Em uma idade de brincar, imaginar, sonhar, eles vivem uma
realidade atroz. Aqui e ali, recolhem pés, braços, pernas, que colocam em
sacos. Penso se suportaria tudo isso. Creio que por minha índole, faria de um
tudo. Mas tenho certeza que uma melancolia, tristeza profunda, iria me afogar,
invadir, pouco a pouco, até ficar inerte, sorumbático, preso em minha solidão,
como que guardando um oceano de emoções para jogar não sei onde. Pensam
diferente alguns fotógrafos que estão sempre aqui e ali, viciados em
adrenalina. Todos praguejam contra Bashar El Assad, o presidente da Síria. Em
dado momento, um dos capacetes brancos pergunta onde estão os árabes, ninguém
ajuda. O mundo todo está contra nós. Abu pensa em levar a família para a
Turquia, mas logo assistem na Tv que os que chegaram lá não são bem tratados.
Outros dizem que não vão sair. É sua cidade e somente sairão mortos. Quando não
são jatos ou helicópteros, até drones sobrevoam procurando alvos. Então
decretam uma trégua. Eles levam as crianças até um parquinho. Brincam, também,
como se crianças fossem. E então o rádio avisa que virá um bombardeio. Todos
correm para se proteger. Mas é uma loteria. A bomba cai, o prédio desaba e
vários morrem. O menino ouve o aviso e pede ao pai para voltar para casa. Jato
joga bomba. Então, no meio de uma busca por soterrados, um deles avisa que
precisa sair mais cedo. Estará em uma festa de casamento. Aqui, algumas pessoas
morrem, enquanto outras casam. Estão dançando e lá vem aviso de bomba. E entre
os desesperados que cavam e carregam mortos e feridos, um homem vestindo uma
t-shirt do Kiss. Bem irônico. É um mundo diferente do nosso. Nas casas, há
móveis, sofás, cadeiras, mas sentam em roda, todos, no chão. Não, as mulheres
nem aparecem ou quando passam ao fundo, estão cobertas de negro. Desculpem os
mulçumanos, mas não há interpretação possível, além da dominação dos homens,
para manter as mulheres em casa, apenas como procriadoras, sem estudar, como
inferiores. Sim, vivemos uma guerra civil em Belém. O inimigo veste-se quase
sempre de maneira parecida com a nossa. Não sabemos de onde virá o tiro, nem o
motivo. Não temos nem capacetes brancos para nos ajudar. Estamos perdidos.
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