sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

ESSE ANO NÃO VAI SER IGUAL AQUELE QUE PASSOU?

O carnaval não me desperta a paixão. Talvez seja uma certa melancolia que me domina a maior parte do tempo. Adolescente, participava de tudo, até mesmo do Bandalheira. Uma noite, Rosenildo Franco me levou a uma reunião em uma Lavanderia que ficava ao lado da Mesbla, onde hoje está o Pátio Belém. Eles começavam a reativar o Quem São Eles. Mas foi meu irmão que participou intensamente. Vai rolar um festival de samba enredo e eu quero participar. Faz uma letra e o pai faz a música. “Cobra Norato, Pesadelo Amazônico”. Ganhamos. Virei integrante da ala de compositores. Logo eu. Estive ainda em mais um enredo, sobre o ilustre Comendador Raymundo Sobral. O carnaval foi sendo minado por confusões internas, prefeitos não muito simpáticos e teve uma reanimada com a Aldeia Cabana, de Edmilson Rodrigues. Ele teve a idéia correta. No começo de tudo, os desfiles eram no Boulevard Castilhos França. Depois, na Presidente Vargas e ainda, na Doca. Eram lugares importantes, embora ocupados por classes mais altas, indiferentes à festa local, preferindo viajar. A falta de Cultura, durante mais de vinte anos, que estamos vivendo, afastou as pessoas. Os intelectuais, músicos, escritores, atores, que brilhavam nos desfiles e eram aplaudidos, reconhecidos, não passam mais, salvo alguns renitentes. Mais uma vez a onda negativa e política, deixou abandonada a Aldeia, seus projetos e crivou-a de críticas. Durante o segundo semestre, acho, a turma do carnaval reuniu pontualmente aos sábados, em uma livraria que também frequento. Tive vontade de ir lá dar uma idéia, mas sabe, os caras são do ramo, estão preocupados e fiquei intimidado em dar “pitaco”. Hoje, a maioria das pessoas acha absurdo haver samba em Belém. Deviam fazer como em Manaus com os “bois”. Aqui é diferente. Os marinheiros que estavam em terra, durante Momo, a partir da Riachuelo, tocavam samba e foram formando platéia. Havia os “Boêmios da Campina”, maravilhosos. Criança, não me deixavam assistir ao desfile, por tarde da noite. Mas via aqueles ternos vermelhos e brilhantes, as calças e sapatos brancos, maravilhosos. Talvez essa noite negra que se abateu sobre a Cultura tenha apartado os mais jovens do samba. Talvez. O Estado ou o Município também não se interessam em receber turistas. Então, quem é que se interessa pelo carnaval de Belém? O povão. Para essas pessoas ávidas por uma diversão, o carnaval é grande atração. Deixa o pessoal da Doca ir pra Salinas, sair em Escola do Rio de Janeiro, enfim. O povão precisa se divertir. Embora exista a Aldeia Cabana, ouso sugerir o entorno do Estádio Edgar Proença, o Mangueirão. As partes internas serviriam para oficinas e construção de carros. Arquibancadas do lado de fora ficariam lotadas por gente humilde, recebendo a festa da alegria genuína. Assim como o brega e o tecnobrega se espalham, é preciso começar cedo, pelas mídias alternativas. Enredos decididos, todos com prazo para apresentar o samba official. E então, divulgados os concorrentes, vamos para um concurso para decidir quem é o melhor, com a nota valendo para o desfile. Imaginem o local da festa, lotado com as torcidas de cada escola. Imaginem o concurso para a melhor sambista, passsista, rumbeira (que havia no início) , enfim, de cada escola. Isso daria outro barulho. Mais ainda, cada escola poderia realizer ensaio em espaços próximos ao Mangueirão, como forma de atrair mais simpatizantes. Isso renderia dinheiro, grana, para ficarem menos dependents das esmolas do governo. Devo ter outras idéias que não me ocorrem agora, mas finalizando, penso que os artesãos dos carros alegóricos precisam ser respeitados. Após o desfile, esses carros são deixados nas ruas, expostos a chuva e a ação de desocupados que os depredam impiedosamente. E, no entanto, quem não pôde comparecer ou assistir pela televisão, pode estar querendo conferir a riqueza e detalhes dos trabalhos. É preciso levar os carros para um espaço aberto, para que fiquem em exposição até a quarta feira de cinzas. Será mais uma crônica na direção do “Sonhos, sonhos” e a música de Lennon, “You may say I’m a dreamer”? Que bom seria se algo assim fosse acatado e a festa voltasse a ser resplandecente, como já foi, agora com um público interessado, vibrante e agora, pleno de diversão.

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