sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

BELÉM TEM SAMBA NO CARNAVAL

Talvez, pelo texto da semana passada, muitos pensem que fui ou sou um folião extremado. Não, acho que não. Claro que se penso no ontem com a mentalidade de hoje, posso fazer mau julgamento. Enfim, falava mais alto a juventude, o entusiasmo, as meninas e a vontade de se mostrar com mais idade do que tinha. Publiquei no Facebook, como sempre e muitos lembraram gostosamente daquele carnaval. Todos a partir de uma faixa etária. Hoje, o carnaval que brincam é completamente diferente daquele. Completamente. As pessoas se divertem, bebem, beijam e voltam para casa arrasadas. Antigamente, também, mas o que cantam, onde dançam, como dançam, tudo diferente. Quando se escreve lembrando também as Escolas de Samba, a turma de hoje duvida. Samba em Belém? Realmente, fora pequenos guetos, o samba na cidade, principalmente no carnaval, não é mais ouvido. Quando criança, morando na Presidente Vargas, dormia antes do Boêmios da Campina passar. Do alto, via aqueles paletós vermelhos, calças brancas e sapatos brancos, zanzando pela Riachuelo. Uma noite, Rosenildo Franco me levou a uma reunião na antiga Lavanderia Paraense, onde hoje está o Pátio Belém. Tramavam a volta do Quemzão. Artistas plásticos, poetas, músicos, publicitários,

atores,  envolvidos em um entusiasmo maravilhoso. Lembro da construção da sede do Quem ali na Wandenkolk, essas mesmas figuras carregando tábuas. Primeiro era espaço reduzido, um corredor. Depois ficou bem maior. E eu conheci Luiz Guilherme Pereira, o eterno presidente, apaixonado por aquilo. Vi Rubão sambar e desfilar, juntamente com Margarida, a Porta Bandeira. E havia Katia, a sambista ou rumbeira, como chamavam, que tinha, como diz o Chico, “um tufão nos quadris”. E o chefe da bateria, que infelizmente no instante em que escrevo, não lembro o nome. E todos se entendiam por um bem maior. Puxa, como era bom ver aquilo funcionando. O primeiro enredo homenageou Eneida de Morais. O segundo, o Marajó. Na autoria dos sambas, grandes figuras, como João de Jesus Paes Loureiro e Waldemar Henrique. Que dupla! Então criaram o concurso de samba enredo. Meu irmão queria participar. Todas as figuras importantes estavam compondo. O tema era “Cobra Norato, Pesadelo Amazônico”. Me pediu uma letra. Meu pai fez a música e ele venceu. Uma das grandes emoções da vida é ver uma obra sua sendo apresentada. O desfile era na Presidente Vargas. Íamos na ultima ala, dos compositores. Agora lembro de mim, tentando esboçar passos de samba. Impossível. Mas ali naquela festa de cores, a bateria estourando, o povo cantando e batendo palmas, é uma das melhores coisas da vida. Você criou e estão cantando. Anos depois, quando o enredo era o ilustre Comendador Mário Sobral, os compositores se reuniram e criaram um samba conjunto. Inclui a frase “é pai dégua doutor, pai dégua é fazer amor com meu amor”. Novamente na avenida, agora na Doca, acho, passando pela emoção. E vocês me perguntam como é que um compositor de samba enredo nào é folião? Não sou. Fazia as letras. No desfile, tomava algumas e pulava de alegria. Outro orgulho foi ter desfilado quando meu pai foi enredo do Quem São Eles. Foi muito legal. Uma pena que as autoridades, por incompetência, não tenham percebido a possibilidade de lucro com o desfile. E a Cultura tenha sido abandonada, causando também o abandono das Escolas. Há, sim, possibilidade de ressurgimento, com gestão profissional de todos. Mas isso é outra história. Duas coisas são certas: não sou folião e em Belém, tem samba no carnaval, sim.

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