“a menina da comunidade tal”, e outros títulos buscando o emocional de suas
vitórias. O pior é que se trata de heroísmo, sempre. Enquanto potencias
mundiais usam o esporte como formação de bons cidadãos e principalmente, como
força de propaganda, movimentando também milhões de dólares em patrocínios,
nossos atletas - heróis – passam fome, têm dificuldade de transporte e treinam
com aparelhos antiquados ou adaptados. Nunca vou entender a razão da falta de
um apoio total, planejado, adequado ao esporte. Sei que há, aqui e ali, alguns
patrocínios e por parte do governo, algum incentivo, pequeno. Qual a razão para
não ser grande? Isso ao mesmo tempo em que ouvimos milhões sendo desviados na
Lava Jato e outras. Há também o futebol, com meninos mimados, desde cedo
elevados a craques, cheios de tatuagens, piercings, brincos, relógios de marca
e carrões importados. Quando sofrem a vaia, olham perplexos, sem entender.
Descarregamos nossas decepções de “gênios do futebol” em Neymar, grande
jogador, mas que se deixa flagrar em farras e aviões particulares, o que é seu
direito. Mas aqui no Brasil, o sucesso que às vezes não corresponde em campo a
toda riqueza que ostenta, termina em vaia. E vem o olhar perplexo. Marta! Chega
de queixas. Imaginem se os jogos fossem em Belém. Lançamento de disco seria com
o mano Edgar Augusto. Às torcidas organizadas de Remo e Paysandu, deixo o
lançamento de peso, tentando acertar os juízes. Imbatíveis. E o tiro ao alvo?
Resisto em mencionar o candidato delegado. Corrida de obstáculos seria fácil
com os pivetões do centro da cidade, correndo entre as barracas de camelôs,
após arrancar cordões de senhoras desatentas. Ciclismo evitaria para começar
comentar sobre pedaladas. Mas esses que sempre estão na contramão, desafiando
taxis e ônibus são campeões por antecipação. Salto à distância poderia ser
disputado na hora do rush, ali na Almirante Barroso, a caminho de Icoaraci e
com a ameaça constante do BRT. Deixaria a ginástica olímpica para a galera do
Treme, já homenageada na cerimônia de abertura. Nas lutas marciais, creio que
nossas gangues seriam medalha de ouro. Na corrida dos cem metros, em que Usain
Bolt é campeoníssimo, colocaríamos torcedores de Remo e Paysandu, após os
jogos, fugindo das brigas e ameaças. Duvido que alguém chegue na frente. Acrescentaria
outras práticas como prova de paciência, para nós que aguardamos ficarem
prontas as obras da Prefeitura. Prova de resistência para os passageiros dos
ônibus caindo aos pedaços, todos os dias na volta para casa. Prova de
desperdício para todos os que deixam o lixo na rua, amontoando. Prova de
agressividade para aquele Sectario de Cultura que conseguiu matar a Cultura no
Pará e sequer conseguiu impor sua Ópera, mesmo gastando milhões. Prova de calor
aos que se dirigem ao aeroporto, com taxas tão altas e sem ar refrigerado. E
finalmente, prova de amor à cidade, que nos testaria individualmente. Dizemos
que amamos Belém, mas nada fazemos para melhora-la. Sim, seriam jogos bem
interessantes.
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