sexta-feira, 1 de julho de 2016

1973, O ANO QUE REINVENTOU A MPB

Juro a vocês que é mera coincidência estar escrevendo sobre livros com temas musicais nas últimas semanas. Primeiro foi “1965”, depois “A Noite do Meu Bem”. Mas “1973, o ano que reinventou a Mpb”, organizado por Célio Albuquerque e lançado pela Sonora Editora, é muito bom. Imaginem um ano em que, após Caetano, Gil, Chico, Milton e outros tantos, surge uma nova geração com discos que logo na estréia, tornaram-se clássicos, com músicas cantadas até hoje. Em plena vigência da censura, por conta da ditadura, na época, esses estreantes, ainda assim, brilhavam com seu talento. No livro, vários autores, geralmente ligados ao jornalismo musical, dissertam sobre esses discos, os mais conhecidos sendo Regina Zappa, Antonio Carlos Miguel, Pedro Só, Rildo Hora, Luiz Maciel, Marcos Suzano, Moacyr Luz, Mona Gadelha, Silvio Essinger, Sergio Natureza, Roberto Muggiati, Tavito e Marcelo Fróes.

Somente para citar os estreantes, temos Fagner com seu “Manera Fru Fru, Manera”, com clássicos como “Canteiros” e “Mucuripe”. Também João Bosco e “Bala com Bala”, Luiz Gonzaga Jr e “Comportamento Geral”, Luiz Melodia e o maravilhoso “Pérola Negra”, com todas as músicas sendo inesquecíveis, Raul Seixas e o “Krig-ha Bandolo” com “Mosca na Sopa, “Metamorfose Ambulante” e a brilhante “Ouro de Tolo”, Secos e Molhados com todas as músicas sensacionais, Sergio Sampaio e seu “Eu quero botar meu bloco na rua”, Walter Franco e o primoroso “Ou Não”, que trazia a polêmica “Cabeça”(o que é que tem na sua cabeça, saiba que ela pode explodir). Imaginem a renovação da música popular brasileira com esses jovens artistas iniciando carreira com tamanha bagagem. Deles todos, os menos exitosos foram Sergio Sampaio e Walter Franco, este último, com seu trabalho mais elaborado, provocante e moderno, usando todos os melhores recursos de estúdio, na época. Se você me perguntar qual o melhor de todos, não sei responder. Eu tinha 19 anos, estava empolgado com as músicas, os artistas o movimento todo. E pensam que somente esses novatos brilharam? Os veteranos estavam todos aí com “Araçá Azul”, o álbum mais experimental de Caetano Veloso, batendo recordes de devolução dos lojistas que pensavam arrebentar nas vendas; Chico Buarque e as músicas todas censuradas da peça “Calabar, o elogio da traição”, com Ruy Guerra, tendo “Tatuagem” “Ana de Amsterdam” e outros clássicos; Elis Regina com “Elis”, álbum que marca a nova postura que consagrou sua carreira, misturando técnica e emoção; Gal Costa, que vinha do ótimo “Fa-tal”, agora tinha Gilberto Gil na produção e Dominguinhos na sanfona, com interpretação magistral para “Índia” e outros clássicos como “Da maior importância” e “Presente Cotidiano”. Maria Bethânia veio com “Drama, 3o. Ato”, Milton Nascimento, com quase todas as músicas censuradas, lançou “Milagre dos Peixes”; os Novos Baianos vieram com “Novos Baianos Futebol Clube”; Paulinho da Viola, com capa de Elifas Andreatto mostrou “Nervos de Aço”, de Lupicínio Rodrigues; Tim Maia lançou o elepê que trazia “Réu Confesso” e “Gostava tanto de você”, até hoje clássicos e para arrematar, Tom Jobim veio com o extraordinário disco “Matita Perê”, que tinha na abertura “Águas de Março. Como era maravilhosa a música brasileira! Eu me lembro de cada um desses discos. Impossível esquece-los. E o talento nacional brotava feito mato de tudo quanto é lado. Havia audácia, brilho, modernidade. Nós fomos felizes. Muito.

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