sexta-feira, 15 de abril de 2016

SCOLA CARONTE FELLINI

Ali pela década de 70, havia uma “sessão maldita” no cinema Palácio, todas as sextas, não sei se às dez ou meia noite. Para mim, um período de fantástico enriquecimento cultural, algo que moldou toda uma vida. Semanalmente víamos filmes de Rosselini, Buñuel, Antonioni, Polanski e Fellini, entre muitos. O ator Henrique da Paz me contou que vinha com sua turma, lá de Icoaraci, para assistir aos filmes e depois debater o que haviam assistido. Esse tipo de sessão foi comum durante muito tempo. Lembro do Cinema Um também fazer isso, nas manhãs de domingo, acho. Era uma sexta feira gorda, de carnaval. Chovia e eu estava no Palácio assistindo “McBeth” de Roman Polanski. Especialmente marcante. Não sou um cinéfilo, apenas, como muitos, gosto de assistir. O grande filme da minha vida é “Amarcord”, de Federico Fellini, que reúne todas as sensações de uma existência. Fed coloca toda sua infância em Rimini e nos fala do mundo. É o que humildemente procuro fazer em minhas obras, seja no teatro, na crônica e na literatura. Há pouco tempo revi. Junto, em dvd, um documentário sobre as pessoas retratadas. Sensacional. A moça a quem chamavam “Gradisca”, a outra, lasciva, o pecado, que estava sempre próxima, o menino, na verdade, uma soma de Fed com seu melhor amigo. A excepcional cena dos moradores, após longa espera, em botes, assistindo a passagem do grande navio, filmada em estúdio, com o mar revolto feito de plástico. Ali está a magia do cinema, misturada com as emoções tão humanas!
Acabo de assistir “Qu’il est étrange de s’appeler Federico”, filme do maravilhoso Ettore Scola sobre seu amigo. Ambos começaram no jornal satírico Marc’Aurelio. Insone, Fellini o levava para longos passeios de carro pela cidade. Ambos com seus personagens primeiro desenhados, vindos da imaginação. O narrador é o mesmo de “Amarcord”. A música bem semelhante à de Nino Rota. Também dividiram Marcelo Mastroiani em vários trabalhos. O maravilhoso Estúdio Cinco, da Cinecittá, onde filmou na maioria das vezes. “O cinema é muito mais pintura do que literatura ou teatro. Os objetos e a luz sobre eles. Qual é o componente fundamental da pintura?”. A melhor cena? O final de Amarcord, casamento de Gradisca, noivos se despedindo, todos acenando também para nós, e o acordeonista cego tocando bravamente enquanto chuta terra nas crianças que o perturbam. Vale por uma vida.

E se me permitem, também quero recomendar “Youth”, de Paolo Sorrentino, que ficou famoso com “A Grande Beleza”. Aqui, em um desses spas para pessoas ricas, nos Alpes, um famoso compositor e regente (Michael Caine), um diretor de cinema (Harvey Keitel) e uma atriz (Jane Fonda) nos encantam com seus diálogos. A cena em que Caine e Keitel, nús, em uma piscina, contemplam extasiados uma miss universo caminhar e entrar na piscina completamente nua, completamente jovem, completamente opulenta, vale o ingresso. Há vários dramas, vividos também por Rachel Weisz e Paul Danno. Não sei quando passam por aqui, mas nestes tempos, vale baixar na internet. Mas é só uma recomendação. Não sou crítico, nem cinéfilo. Apenas, publico.

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