sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016
UM FOLIÃO REPENTINO
Participei,
como integrante do Grupo Cuíra, do desfile da Escola de Samba Piratas da
Batucada, sábado passado, na Aldeia Cabana. O grupo foi homenageado, sendo sua
história o enredo. Idéia do carnavalesco Jean Negrão que tem tudo a ver. Tal
como o Teatro, as Escolas de Samba também sofrem com a estupidez do governo que
há mais de vinte anos, tenta acabar com todas essas manifestações. Junto com
integrantes do Cuíra, estivemos na sede dos Piratas. Conferimos a audácia, a
tenacidade de sua diretoria, trabalhando sempre com o mínimo e a má vontade das
autoridades. Assistimos ao ensaio da bateria, integrada por pessoas das mais
variadas idades, inclusive crianças de no máximo, dez anos de idade. O porta
estandarte, o casal mestre sala e porta bandeira, a rainha da bateria, a
comissão de frente. É um absurdo que o desfile agora seja realizado uma semana
antes do carnaval, certamente para não atrapalhar aqueles que vão sair da
cidade e aproveitar o feriado. Um absurdo. O carnaval é atração para o povão,
agora que não temos mais nem miados de uma Secretaria de Turismo. Essas
autoridades têm uma jóia e deixam apodrecer. Na noite do desfile, toda aquela
área estava com grande movimentação. Fomos escalados para desfilar no primeiro
carro alegórico. Não somente o pessoal do Cuíra, mas meninos e meninas bonitas,
drags, figuras da escola. O carro começou a ficar bem lotado. Havia um senhor
tendo à frente um guidom. Pergunto se o carro vai aguentar todos aquele peso.
Ele apenas balança a cabeça dizendo sim. E agora vai começar o desfile. O carro
se movimenta. Vejo o motorista virar o volante em todas as direções e nada. A
barra de direção quebrou. Soa a sirene. Todos os homens do carro têm de descer!
Você, não! Você é homenageado. Ah, bom. A música é bem alta e agora começamos a
dançar e a cantar. Empurradores levam o carro literalmente no muque, tentando
mantê-lo sobre uma linha amarela que marca o centro da pista. É preciso muita
força. Como esse pessoal sofre! A arquibancada está lotada. Ingressos grátis.
Acho ótimo. O povão não tem diversão e hoje, o desfile é top. Estamos bem
empolgados. Não é apenas o samba que nos faz dançar. Os esforços para manter o
carro na linha fazem com que dancemos na tentativa de não cair. Treinamento
contra terremoto. Esperei pelos gritos da plateia “Pedreira, Pedreira!”, mas
não ouvi nada. Pena, não pude ver todas as fantasias. Estávamos bem à frente de
toda a Escola. Mas fico pensando se houvesse um mínimo de profissionalismo e
preparo técnico, tudo seria magnífico. Que tal um concurso de samba enredo uma
semana antes, com a nota valendo para o desfile? Que tal um concurso de rainha
da bateria? Que tal deixar o desfile começar mais cedo, com as agremiações de
categoria inferior para mais tarde? Que tal promover uma exibição dos carros
alegóricos após o desfile? É uma aberração jogar fora o trabalho incrível de
artesãos, mostrado apenas em uma noite. No dia seguinte, vândalos, por puro
prazer, destroem os carros. Ficariam em uma praça, um largo, sei lá, para serem
admirados, mais tarde. Há tanto a ser feito e no entanto sobrevive o amor
dessas pessoas, sua vontade de manter viva a Cultura Popular, não interessando
a colocação. Meu Quem São Eles saiu bonito, nos seus 70 anos. Viva Luis
Guilherme Pereira! Ainda lembro das grandes figuras da Cultura capinando e
ajudando a sede na Wandenkolk. Também dos grandes desfiles. Dos sambas em que
participei como letrista. Tomara que ganhe, mas os Piratas da Batucada ganharam
meu coração.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário