Mas
como não gostar de um cara que joga futebol e tem sempre piadas a contar? Ser
seu amigo deve ser maravilhoso. O documentário mostra sua evolução, o terrível
momento político, em que foi perseguido, dor que ainda não passou. Deploro os
insultos que recebeu, recentemente, no Rio. Ele foi muito prejudicado. “Houve
momento em que a pressão foi muito forte. Passei a compor com raiva. Hoje, há
músicas que perderam a razão, ficaram sem chão. E também me pergunto se deixei
de compor outras, que ficaram perdidas”. Edu Lobo diz que os maiores
adversários de Chico, hoje, são seus adversários internos. Ele mesmo confessa
demorar mais para compor. Tudo parece já ter sido feito. Toda criação é um
risco, diz Edu. Nada mais correto. Chico também diz que sua turma é a música,
não a literatura, algo muito solitário. Sei lá. Gosto mais de sua música, mas
penso que é um escritor que compõe, tendo em vista sua capacidade de
observação, de vestir a alma de outras pessoas, personagens. Estão aí suas
músicas que mulheres apostam ter sido feitas com alma feminina. Miucha, Ruy
Guerra, Vinícius, Nelson Cavaquinho entre outros, falam dele. Conta de sua timidez
em receber de Tom uma música para colocar letra. Foi “Retrato em branco e
preto”. E vieram muitas outras. “Às vezes Tom me dava várias e eu ficava ali,
sem saber o que escrever”. Em retorno, Tom diz que nem dava tantas, “pra não
chatear o cara, né?” Imaginem. Mpb4, Maria Bethania, Caetano e Mônica Salmaso,
esta, brilhantemente cantando, são alguns dos números musicais. É muito curioso
quando conta do erro da Censura ao liberar o “Apesar de Você” que tomou conta
do Brasil. Também engraçado o “Vai Passar”, que compôs para a volta da
democracia, e perceber que muitos trechos são perfeitamente atuais para o que
vivemos hoje “dormia, a nossa pátria mãe tão distraída, sem perceber que era
subtraída, em tenebrosas transações”.
Chico
conta de suas crises de composição. Em uma delas, decidiu escrever. Chegou a
fazer psicanálise. Outra coisa interessante está em canções que anos mais
tarde, percebeu que eram, claramente, reflexo de situações que viveu, mas na
época, não teve coragem ou ímpeto de reagir, dizendo o que agora está nas
letras. É a coisa do escritor que observa, sente, decifra as pessoas, criando
personagens, vestindo outras vidas e a partir daí, pensando exatamente como
elas. Acho que Chico, também, envelheceu melhor que meu Caetano. Mas meu amor pelos
dois e o que representaram para a minha geração deixam de lado qualquer
escolha. Me permitam dizer, ao final, que recentemente, soube que Chico leu
“Pssica” e gostou muito. É a gloria.
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