Jimi Hendrix mudou a minha
vida. Tinha uns 13 ou 14 anos quando meu irmão Edgar chegou com “Electric
Ladyland” e pôs para tocar em nosso quarto. “And the gods made love” foi a
primeira faixa. Uma tosqueira nos dias de hoje, a voz em rotação menor e
guitarras distorcidas. Aquilo me tocou. E vieram as outras músicas. Havia
poucas notícias a respeito. Até hoje guardo uma radiofoto UPI com Jimi mordendo
as cordas da guitarra. Até então, ouvia Beatles, Stones e todos os outros.
Músicas com 3 minutos de duração. A guitarra de Jimi explodia em notas absurdas
e profundas. Pouco adiante, morando no Rio de Janeiro, comprei, ao mesmo tempo,
“Are you experienced?” e “Axis: Bold as Love”. De uma vez. Misturaram tudo. E veio
a performande em Woodstock. Toda essa introdução para falar sobre o mais novo
disco de Jimi Hendrix, “Live in Atlanta”. É um absurdo que passados quase 50
anos, ainda haja gravações desse artista que se foi tão jovem e alcançou o
estrelato como um raio. Gil, Caetano e Gal o replicaram na Tropicália. Tal como
um hendrixmaníaco empedernido, como diria o Edgar, tenho todos os discos,
filmes e livros. Um garoto sem convivência familiar, que rodava os EUA
acompanhando os mais diferentes artistas. Brincavam que ele era “doidinho” por
fazer truques na guitarra. Little Richard o despediu dizendo que ele queria
aparecer mais que a estrela, ele. E de repente ele está na Inglaterra, tocando
em clubes, assistido com respeito e inveja por Eric Clapton, George Harrison,
Keith Richards, you name it. Não tinha casa, não tinha família, não tinha
namorada fixa, seus amigos eram os que encontrava por aí. Entre os shows,
passava as noites em jam sessions ou com várias namoradas. Abusava das drogas à
disposição naquela época. Quando voltou e estourou na América, os Panteras
Negras cobraram mais atitude política. Era um tempo efervescente com Guerra no
Vietnã, protestos por liberdades civis, direitos humanos, final dos anos 60.
Parecia finalmente mais centrado e declarou que desejava dar um upgrade em seu
som. Na Ilha de Wight, começou sério, até que alguém na plateia gritou para ele
fazer “todas aquelas coisas sujas”. Há muitas teorias sobre a causa de sua
morte. Nenhuma resolve o assunto. Não havia ninguém para ajudar? Dar uma força?
Jimi se foi. Foi? A partir daí, ensaios, jam, shows, peças inacabadas, tudo
isso vem sendo montado, transformado pela tecnologia e lançado. O pior é que
consegue ser melhor do que tudo por aí. Nesse “Live in Atlanta”, está com Mitch
Mitchell na bateria e Billy Cox no baixo. São dois shows, com repertórios
diferentes. Há uma falsa introdução para “All along the watchtower”, a
maravilhosa música de Bob Dylan que ele transformou e se apropriou. Errou o
tom? A bateria não veio junto? Quando recomeça, é como um trovão. De resto,
estão todos os sucessos, algumas peças longas, blues, naturalmente e o som
perfeito, guitarra atacando, tirando notas inesperadas e uma gravação de
altíssima qualidade para um show lá no final dos anos 60. Você já ouviu todas
essas músicas milhares de vezes, mas compra o disco, talvez como uma homenagem
a alguém que mexeu na sua vida, na sua estética, na maneira de compreender a
música. Mas chama o filho, mostra e conclui que ele era e é, realmente,
sensacional.
* Gostaria de convidar todos os
leitores para o lançamento de meu novo romance, “Pssica”, pela Editora
Boitempo, no próximo dia 9, a partir das 18.00 horas, na Livraria da Fox.
Espero vocês.
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