sexta-feira, 11 de setembro de 2015
NÓS, OS INVISÍVEIS
É a
segunda vez que escrevo sobre esse assunto. Na quarta passada, lancei meu sexto
romance em edição nacional para a Boitempo Editorial, chamado “Pssica”, que
felizmente está sendo extremamente bem recebido em São Paulo e Rio de Janeiro,
onde é maior o consumo de Literatura. Na próxima semana, volto à França, para
um festival, ainda por conta dos três livros traduzidos e lançados por lá pela
Asphalte Editions. Na volta, fico em São Paulo para mais atividades. Devo ir à
Bienal de Pernambuco. Estou muito contente pela boa receptividade à noite de
autógrafos, na Livraria da Fox. Devo isso à divulgação do “Pssica”, dos prêmios
europeus e, como não dizer, à presença semanal em O Diário do Pará. Não posso
esquecer que também, semanalmente, republico a crônica em mídia social. Talvez
pudesse dizer que devia estar satisfeito. Para o que alcancei, como querer
mais? Quero mais. Vivo no Pará. Em Belém. Todo meu trabalho foi feito a partir
da cidade e seus arredores, mesmo em outros gêneros, como poesia, contos,
teatro e jornalismo. Gostaria de não ser invisível em minha própria cidade.
Esse é um problema meu e de todos os outros que militam na Cultura. Todas as
áreas. Mas particularizo, aqui, a Literatura. Recebo grandes elogios nos
maiores jornais brasileiros. Mas isso não é motivo para entrar em uma Saraiva,
ou na livraria do Pátio Belém e encontrar meu livro, lançado nacionalmente, à
venda. Um autor paraense frequenta essas livrarias como um anônimo. Ninguém
sabe quem é. Ninguém está interessado. Uma repórter me entrevista e depois,
curiosa, pergunta se sou irmão do Edgar Augusto. É que achei o nome parecido,
diz. Meu irmão mais velho milita nas diferentes áreas da Mídia de maneira
excelente e merece todo o reconhecimento. Mas penso que depois de escrever
dezesseis livros, escrever outras tantas peças de teatro, escrever semanalmente
em jornal, receber prêmios internacionais, essa repórter, que deve trabalhar na
editoria cultural, devia saber quem sou. Não sabe. Se não sabe de mim, imagine
dos outros. Não temos política cultural do Estado. Pior, muito pior, não temos
nada do município. Nossa arte talvez seja vista como uma excentricidade.
Escrevemos um livro, lutamos para publicar, na maioria das vezes com nossos
recursos. Na noite de autógrafos, recebemos a família e os amigos. E depois?
Dos colegas de imprensa, só tenho a agradecer. Mereci toda a atenção nos
diversos meios de comunicação. Lamento pelo Liberal, certamente não divulgando
porque escrevo no Diário. Que pena. É a segunda vez que escrevo sobre nossa
invisibilidade. Na abertura da FLiPa, Feira Literária do Pará, ano passado,
perguntei à plateia se nos estava vendo. Estávamos ali, escritores, expondo
nossos trabalhos. É que nos outros dias, ninguém sabe quem somos. Escritores
como Haroldo Maranhão e Adalcinda Camarão, expoentes da nossa Cultura, estão
esquecidos. Escritores de todas as idades esperam um aceno para lançar
trabalhos, mas principalmente, para se tornarem visíveis. Leio entrevistas. As
dicas de leitura. A maioria, best sellers ou auto ajuda. Nada do Pará. O
resultado de tudo isso está na violência, no analfabetismo funcional, na falta
de horizontes sobretudo dos mais jovens, nas letras bisonhas do funk, nas
pichações e nas postagens em facebook com flagrantes erros de gramática. Sou
invisível em minha própria terra. Eu e todos os colegas que fazem Literatura.
Que fazem Cultura no Pará. Quando isso terá fim?
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