segunda-feira, 4 de maio de 2015

JIMI - TUDO A MEU FAVOR

Foi em um sábado qualquer de 1968. Eu chegara do colégio onde joguei futebol. Estava deitado, no quarto. O mano Edgar chegou da Rádio Clube, ligou o pick up e colocou um disco que acabara de ganhar. “Electric Ladyland”, com Jimi Hendrix Experience. E aí minha vida mudou. Dei meu jeito de comprar e encontrar tudo o que eu esperava da música. Agora imaginem o que era um garoto de 14 anos, naquela época, vivenciar a revolução musical proposta por Hendrix. No ano seguinte, no Rio de Janeiro, encontrei “Smash Hits” e “Axis: Bold as Love”. A gravadora, aqui no Brasil, misturou tudo. As notícias eram esparsas. Guardo até hoje um recorte de jornal com uma radiofoto da UPI, mostrando Jimi tocando a guitarra com os dentes. Um escândalo. Para mim, sensacional. É terrível que ele tenha desfrutado do sucesso por tão pouco tempo. Passou feito um cometa, revolucionando, misturando tudo de maneira tão criativa. Veio “Woodstock” e eu fui ao Cinema Olympia diariamente. Na Presidente Vargas, havia a “Papa Jimi”, boate super moderna, na porta um desenho dele. Uma noite, voltando do estudo, visitei meu amigo Ivan Novais que estava discotecando. Havia um vinil com gravações do Festival de Monterey. De um lado, Otis Redding. Do outro, Jimi. E ele abre com “Like a Rolling Stone”, de Bob Dylan. Até hoje me arrepio ouvindo. Hoje, tantos livros depois, tantos discos que continuam sendo lançados com gravações demo que ele deixou e shows, assisto “Jimi – Tudo a meu favor”, de John Ridley, com André Benjamin no papel do guitarrista e volto no tempo.

Jimi me faz pensar em pessoas que conheço, que somente são felizes quando estão trabalhando. Quando saem de seus consultórios, escritórios, não sabem o que fazer da vida. Não têm hobbies, distrações. Mas em seu ofício, estão felizes. Ele corria os EUA acompanhando os mais diversos artistas de r&b. Tocou com Little Richards que o expulsou da banda por chamar mais atenção do que ele, no palco. Era o “doidinho” da guitarra. Uma modelo inglesa, namorada de Keith Richards, amante de blues o viu em um clube. Levou vários amigos para assistir, inclusive Andrew Loog Oldham, que não se interessou. Chas Chandler, que encerrava a carreira dos Animals se apaixonou. Levou para Londres. Enquanto nos EUA, tentavam rotular sua música, na capital da Inglaterra vivia-se a explosão do rock and roll, da psicodelia. Beatles, Stones, The Who, The Cream, somente para citar alguns. Seu trio foi formado com um guitarrista que aceitou tocar baixo e um baterista de jazz que aceitou tocar rock. Sua vida era a guitarra. As experimentações. Os truques. As brincadeiras lascivas. Próximo à sua morte, tentou ser apenas músico. A plateia reclamou. Ele misturava tudo. Rock, blues, funk, jazz, todas as linguagens. Me ensinou a ouvir música. O sentimento. É o herói da minha geração. O filme vai até o Festival de Monterey, indicado por Paul McCartney. Em seu país, finalmente, explodiu. Tinha dificuldade em viver fora do palco ou do estúdio. As namoradas, os interesses financeiros. Ele queria tocar. Gravar todos os sons que estavam em sua cabeça. André Benjamin está ótimo. A maneira de falar, as esquivas, timidez. Voltei a um tempo que vivi, mas não assisti, morando tão longe, em Belém. Vocês não têm idéia, no mundo de hoje, o que era ter 14 anos em 1968 e ouvir “Crosstown Traffic”. O filme está à venda em DVD. Eu adorei.

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