Será que ainda importamos alguma
coisa? Quem lê jornais? Quem lê análises políticas? Quem lê tanta notícia? Possíveis
líderes demonstram ser mestres na dissimulação frente às câmeras. Ninguém sabe,
ninguém viu, mas vai mandar apurar rigorosamente.
Há como que realidades
superpostas. Diariamente, no Jornal Nacional, há cobertura da ação policial na
Favela do Alemão, Rio de Janeiro. Soldados camuflados, com armas pesadas e
postura de guerra, escondem-se nos becos, apontando, procurando inimigos. Como
nos filmes. Na mesma cena, despreocupados, moradores, homens, mulheres e
crianças passam pra lá e pra cá, na sua azáfama diária. Lojas, casas,
ambulantes, mais soldados. Como realidades superpostas. Como se filmados
separadamente e depois sincronizados. A guerra de uns e outros, diferente da
outra guerra, a da sobrevivência, à margem, criando outra sociedade, sem
controle, a sociedade do descontrole, onde o lema é sobreviver. E nessa
sociedade tudo é pirata, como uma sociedade cover, sociedade falsa, com outro
padrão. É pirata porque não tem dinheiro para ser a verdadeira. Porque, ao
contrário de morrer, desaparecer, luta para continuar viva e se reinventar a
partir do instinto de sobrevivência. Não há Cultura ou Educação como
conhecemos. Uma nova escala de valores é criada. A vida e a morte na tv. A
sociedade espetáculo tem fome. A quem vamos devorar nesta semana? A nós não
basta desnudar as pessoas em seus 15 minutos de fama, naquilo que representa
sua vida, sua ação profissional ou particular. Queremos tirar-lhe a roupa,
escanear poro por poro de seu corpo. Queremos ver sua vagina, seu ânus, saber
se é depilada, se as fotos precisaram de Photoshop, se os seios têm silicone.
Primeiro devoramos seu intelecto, procurando erros em suas respostas. Agora
devoraremos seu corpo, em punhetas, inclusive virtuais e após o gozo, pediremos
mais. Quem será a próxima vítima. Temos fome. Está tudo na bárbara, bela, tela
de tv.
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