sexta-feira, 6 de março de 2015
MARCHA PARA CONVENCER QUEM?
Muitas
pessoas participaram, domingo, da Marcha Contra o Trabalho Infantil, iniciativa
de vários órgãos. Pessoas alegres, políticos, crianças, gente bacana, todos com
camisas alusivas, mais show do Arraial do Pavulagem. Creio que voltaram para
suas casas com a alma leve, por participar do evento. Não quero ter razão,
muito menos ser melhor que qualquer um que participou, mas considero mínimo,
muito pouco, quase nada, estar nessa marcha. Ninguém em sã consciência pode ser
a favor do Trabalho Infantil. Qual a razão para sair em marcha, patrocinada por
diversos organismos, quase todos envolvidos diretamente no assunto que até hoje
não foi resolvido? Ao mesmo tempo em que a marcha passava, ali mesmo, na
Presidente Vargas, pouco antes de chegar na Praça da República, conheço uma
criança que estava trabalhando, ajudando sua avó que tem um carrinho em que
vende refrigerante, água e biscoitos. Certamente, algumas pessoas devem até ter
adquirido qualquer coisa. Uma família inteira vive da renda desse carrinho.
Durante a semana, a menina vai ao colégio e depois, ao invés de brincar, cuida
de um sobrinho que deve estar com dois anos, se tanto. Seus sábados e domingos
são no centro da cidade. Ninguém, muito menos os mais pobres é a favor do Trabalho
Infantil, mas há algo terrível que se impõe que é a necessidade. A falta de
emprego falta de dinheiro, renda, para comprar a comida diária, fazendo com que
todos trabalhem, alguns pedindo esmolas, limpando vidro dos carros ou em
funções mais pesadas e de responsabilidade. A passeata queria gritar para as
autoridades, enfim, resolverem esse desequilíbrio em nossa sociedade? Devíamos era
exigir do governo em todas as esferas, oferta de emprego, formação de mão de
obra, espalhar escolas e dota-las de professores de alto nível, enfim, devíamos
fazer tanta coisa e não fazemos nada. Achamos que não vale a pena, o governo
não está nem aí, mas a verdade é que votamos nessas autoridades. Damos o voto e
não cobramos? Vejo, da janela do meu prédio, grupos de pessoas, às vezes de
igrejas, chegando de carro e distribuindo alimento às pessoas homeless. Servem,
rezam e voltam para casa com a alma leve, certos da boa ação feita. Os sem
teto, crackeiros, vagabundos, em cinco, oito horas, estarão com fome novamente.
É preciso agir. Ter coragem de sair do seu conforto e agir. Individualmente ou
em grupo. Tome uma criança dessas, ou um grupo. Construam uma creche. Procurem
seus pais. Juntem dinheiro e paguem médico. Ou professores. Dêem uma chance.
Insistam. Comprem o material pedido na Escola. O uniforme, por exemplo.
Sapatos. Façam uma escola. Arranjem empregos. Assistência psicológica. Acompanhem.
Tenham notícias. Ajam. É preciso agir. O governo não vai sair do seu
imobilismo, seja por incompetência ou malícia. Se não vamos às ruas e exigimos
sua renúncia, nas três esferas, façamos grupos e vamos agir, junto a esses que
precisam de uma ajuda. Domingo, além da criança citada, muitas outras, estavam
trabalhando ali mesmo, na Praça. Políticos foram ao microfone. Pessoas felizes.
Fizeram fotos. Publicaram
nas mídias sociais. Não tiro o mérito de ninguém. Não sou nada.
Posso até não ter razão. Mas a quem se queria atingir com essa marcha? Será que
alguém é a favor do trabalho infantil, repito. Saia do seu conforto, se puder.
Um pouco de cada um, dado com coração, já ajuda muito. Dessa maneira, o
resultado aparece. Aí vamos correr para o abraço.
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