São Paulo com sol não é São Paulo. Por isso, naquela manhã de domingo, quando vi, do meu hotel, na cobertura do prédio ao lado, dois homens e uma mulher esticados, pegando aquele mormaço da hora do almoço, pensei que aquilo não podia durar. Não durou. Mudou. Fechou. Choveu. A temperatura despencou. Ficou legal. Às cinco da tarde, no Teatro Eva Hertz, na Livraria Cultura, 130 lugares, palco da mesma largura, menos profundidade que o do Cuíra, assisti “As Meninas”, de Lygia Fagundes Telles, adaptada por Maria Adelaide Amaral. Não é tudo isso. Boas atrizes. O problema foi a adaptação, creio.
Na terça, peguei o metrô na Estação Trianon e fui até a Estação da Luz, descendo no centro, chuvoso, indo até a Estação Pinacoteca, belo prédio cheio de exposições, passando pelo lindo Parque da Luz, pensando no dia em que cuidaremos assim da Cultura no Pará. Fui ver Andy Warhol, tudo de bom e magnífico. Mas podia estar melhor situada, porque, por questões de espaço, está dividida em dois andares. Também podia estar em local de mais fácil acesso. Emendei para a Livraria Cultura, claro, onde assisti, mais uma vez, agora com pequenas adaptações ao tipo de palco, “A Poltrona Escura”, baseada em três contos de Pirandello, com direção de Roberto Bacci e atuação de Cacá Carvalho. Comigo, dois sobrinhos, mais dois maravilhados com a arte do meu amigo.
Na quarta feira, ligo a TV que mostra o aeroporto Santos Dumont fechado para pousos e decolagens. Vou ou não ao Rio de Janeiro. Fui. O aeroporto abriu, o pouso foi ótimo e apesar das desgraças, principalmente em Niterói, na área em que estive, na Zona Sul, estava tudo bem. De vez em quando uma pancada rápida e vento, muito vento. Ressaca na praia. A temperatura ótima. Rio de Janeiro sem sol não é Rio de Janeiro.
Estive na Livraria da Travessa, linda. Uma pena, passei na Letras e Expressões, antes tão orgulhosa e bonita, imponente, em Ipanema, como sede de Cultura, recebendo fãs de leitura para livros, revistas importadas, CDs, ou então em seus cafés maravilhosos. Um point. Está fechando. Há livros velhos à venda e vendedores diferentes dos que antes, estavam lá, sempre tão felizes e solícitos. Há uma dor no local. Fiquei triste, chateado. Não sei o que houve. Cada vez que um órgão de Cultura sofre, todos sofremos, também.
Com a ajuda de minha amiga Rita Ferradaes, fui assistir “A Gaiola das Loucas”, o novo musical em cartaz no Teatro Casagrande, com tradução e versões de Miguel Falabella, que atua, ao lado de Diogo Vilella. Mesmo com a chuva, o teatro estava praticamente lotado. Mas não é muito bom. Talvez as melodias não tenham facilitado as vozes graves dos dois intérpretes. Elas não chegam a ser as melhores, mas são boas, como “I a what I am”, um dos hinos gays e das discos, na voz de Gloria Gaynor. Talvez a falta de um talento maior de Falabella, eternamente fazendo seu Caco Antibes, meramente correto. Talvez o timbre dos dois, mais para o barítono, sei lá. Os figurinos são razoáveis, os cenários e iluminação, muito bons, bem como o instrumental. Atrás de mim, também comentavam não ser assim tão bom. “Hairspray”, que agora está em SP, é muuuuuito melhor.
E agora estou de volta a Belém, reabastecido de livros, CDs, DVDs, teatro e tal.
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