terça-feira, 19 de janeiro de 2010
Gil constrangedor
Fiquei muito constrangido ao ouvir o último disco de Gilberto Gil, "Banda Dois", gravado ao vivo, na companhia do filho Bem, revisando sucessos de sua carreira. Gil é um dos heróis da minha geração. Um gênio da mpb. Cantor, compositor, músico, arranjador. Sempre foi, com razão, muito orgulhoso de suas qualidades. O que menos gosto dele é quando fala. Prolixo, encontra significados e vai falando, cada vez menos compreensivamente, embora brilhante. Também não gostei do Gil ministro. Mas isso já é outra história. Mas foi no exercício do cargo que ficou mais evidente um problema na garganta que aos poucos, foi deixando sua maravilhosa voz, rouca. Logo ele, que fazia loucuras com ela, transformando-a em instrumento, jazzística, tudo, enfim. Operou, mas não adiantou. Quando ministro, queixava-se de não ter tempo para realizar shows. Era um artista. Pior, tinha uma estrutura para manter, entre secretários, músicos, produtores, enfim. Saiu do Governo e agora vem gravando cds. Este, virou DVD e até vem recebendo boas críticas. E como não receber? No repertório, algumas das mais bonitas músicas brasileiras, como "Expresso 2222", "Refazenda", "Refavela", apenas para citar três delas. Mas fiquei constrangido. Pessoalmente, embora muitos fiquem até injuriados, pensando ser agressão absurda, logo minha, que tanto o admira, enfim, pessoalmente, acho que Gil secou de uns 15 a vinte anos para cá. Muito tempo? Sim. A qualidade das músicas caiu brutalmente. Ele nos acostumou mal, tal qual Caetano, por exemplo, outro que. Este "Banda Dois" é constrangedor porque o maravilhoso cantor Gil acabou. Rouco, sem conseguir nem notas altas, nem baixas, fica tudo ali pelo meio, às escondidas, ele tentando driblar as dificuldades, aqui e ali esquecendo e tentando o falsete, tendo de retornar. E nossa memória é de gravações sensacionais, desculpe. Até seu violão, brilhante, fica em segundo plano, tamanha a decepção. Ouvimos o cd cantando junto, o repertório, mas chega um instante em que prefiro cancelar a audição, constrangido, por ele. Será que não percebe, logo um orgulhoso como Gil? Ou a necessidade é maior, a falta de um palco, que para um artista é terrível? Pena. Há um momento bom. Quando Maria Rita, com sua voz maviosa, jovem, lembrando a mãe, divide "Amor até o fim", curiosamente, a primeira composição de Gil. Ele a revelou em uma entrevista para a revista Bondinho, ali nos anos 70. A revista trouxe um compacto onde havia trechos da entrevista e a gravação, voz e violão, para gravador cassete, da música. É o único instante bonito. Gil ao violão, Maria Rita nos vocais. É pouco.
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