sexta-feira, 5 de outubro de 2018

A CABANAGEM, SEMPRE A CABCANAGEM

Decidi escrever um texto teatral sobre a Cabanagem, após assistir Cacá Carvalho em cena, no Teatro da Paz, dirigido por Antunes Filho. Também porque li sobre a comemoração dos 150 anos da revolta. Como quase todos os paraenses, não sabia quase nada do assunto. O Professor Clovis Moraes Rego me ajudou com livros de Jorge Hurley, Domingos Rayol e comentários. Rui Barata me ajudou também a compreender os lados e motivações. “Angelim” foi um grande sucesso, ficando em cartaz por três meses, no Teatro da Paz. Bons tempos, hein? Na noite de estreia, após o espetáculo, nos bastidores, Pasquale di Paolo veio me cumprimentar e ofertar o texto, fac símile, de seu livro que é outra fonte de informações. O assunto me interessa. Salomão Laredo me listou vários outros trabalhos de autores famosos. Há poucos anos, saiu “A Miserável Revolução das Classes Infames”, de Décio Freitas, pela Record, dando conta da passagem de um francês, que havia sido enviado preso para Caiena, por envolvimento na Revolução Francesa, e que tendo fugido, assistiu ao movimento paraense. Lucio Flavio Pinto me emprestou “A Vida Singular de Angelim”, de Dilke de Barbosa Rodrigues, bisneta do revolucionário, Edição Pongetti. Pensei que teria mais informações sobre Angelim e sua esposa, Luiza Clara. Minha intenção era escrever mais uma vez para teatro, sobre a vida do casal. Há poucas menções, mas uma insistência em negar o boato que o cabano havia mandado matar o marido de Luiza, para depois desposa-la. Luiza já era viúva uma vez e havia casado novamente. Dilke conta que Angelim ia passando e uma turba estava linchando o português. Espantou os espancadores mas o português faleceu, não sem antes pedir a Eduardo que levasse pertences e notícias à sua esposa. Quase no final, uma revelação surpreendente, na existência de um certo João Francisco de Madureira Pará, nascido no Acará em 1797, inventor da primeira máquina de escrever, com tipos de madeira. Foi a Portugal pedir ajuda ao Rei Dom João VI, para aperfeiçoar o invento. Este, o enviou à Câmara, que arquivou o pedido. João foi à Junta Comercial de Lisboa, agora tentando ajuda para patentear um invento que movia os navios sem auxílio de gás ou vapor, usando gás comprimido. A Junta aprovou, mas somente para uso em Portugal. Patriota, João recusou tirar do Brasil o invento. Os ingleses oferecem 400.000 libras que ele também recusou. Voltou para o Pará onde inventou máquina para serrar madeira, engenho para moer cana e máquina para descascar arroz. Escreveu livros. Morreu envenenado ao ir a Angola receber uma herança da esposa. Será verdade? Que vida! Para terminar, recebi de Carlos Galvão, psiquiatra paraense radicado em São Paulo, o livro “A Terra de Tupã”, editado pela Rumo Editorial, dentro da coleção Letra de Médico, com belo romance sobre a Cabanagem, mexendo em alguns fatos para direcionar sua ficção. Temos um português, menino, filho de mãe rica e um inglês aventureiro que multiplicou a fortuna. Com a invasão de Napoleão, perdem quase tudo e vão para a Inglaterra, onde recuperam terras, o garoto, agora, órfão de pai. Aprende a navegar. Vem parar em Caiena e depois em Belém, Santarém (terra do autor), estando sempre ao lado do cônego Batista Campos, amigo de Angelim e apresentando de maneira bem palatável, as ruas da cidade e seus habitantes. A Cabanagem por outros olhos. Passa o resto da vida entre a Inglaterra e o Brasil, casando em Belém com uma mulher especial, uma curandeira, que o protege, assim como Tupã. Pra falar a verdade, não gosto do título do livro, que foge à sua história principal e ao pano de fundo, a Cabanagem. Como leitura, muito bom! Será que ainda haverá leitores para esse acontecimento?

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