sexta-feira, 13 de julho de 2018

DAR O FORA DE BELÉM?

O comediante paraense Sergio Cunha é mais um a anunciar sua partida para apresentações em rio de Janeiro e São Paulo, com uma esticada até Portugal, onde pretende levar seu show. Aqui, não há espaço para ele. Gostaria de dizer-lhe que aguardasse um pouco, pois essa nuvem negra que se abateu sobre nossos artistas há uns 25 anos, está prestes a sumir. É claro que não podemos saber quem vai ganhar e se colocará, no cargo de Secretário de Cultura alguém minimamente preparado para tal. O estrago feito pelo funcionário público que há tanto tempo ocupa a posição, não tem tamanho. Não há como mensurar. Mas certeza mesmo é que haverá outro Secretário. Quem sabe? Mas reconheço que é quase impossível esperar. Nào nos roubaram apenas espaços e datas em teatros locais, muito menos nas demais cidades do Estado. Fizeram com que passássemos a ser invisíveis. Não existimos para o grande público. Uma peça de teatro local, apresentada em espaços alternativos, quando recebe 40 pessoas é considerada de muito sucesso. Diferentemente, quando um global, traz comédias caça níquel, cobrando preço alto, lota o Teatro da Paz. Estive conversando com um dos nossos excelentes músicos. Não revelo o nome porque não pedi autorização. No momento, com seu grupo, viaja pelo Brasil com uma das mais famosas cantoras nacionais. Quantas pessoas levaria a um show somente da banda, aqui em Belém? Corajoso, o conjunto vai lançar como que um clipe com quase 30 minutos de música instrumental e cenas maravilhosas da Belém que poucos conhecem. O caso dos músicos é mais complicado. Gravar cd? Quem ouvirá as músicas todas? Lançar apenas singles? Não há mercado para artistas locais. Mesmo a rádio Cultura, dispara em várias direções e não acerta. Toca blocos de mpb excelentes, com artistas como Chico Buarque, Milton Nascimento, Caetano Veloso e uma música local. A quem quer atingir? Que tipo de público? Que faixa etária e econômica? Uma emissora que não depende de anúncios, que tem a palavra “Cultura” em seu nome, precisa trabalhar apenas para a música paraense. E de maneira profissional, sem pruridos absurdos. Hoje, com a facilidade da gravação, temos ótimas músicas rodando por aí, candidatas a sucesso, se devidamente, tecnicamente programadas. Mas isso é outro papo. Agora nas férias, artistas famosos, desses que fazem versos tipo “dim dim dim”, irão a algumas praias, cobrando cachês fabulosos e sendo assistidos por multidões. E quem quer saber dos artistas locais? Há poucos dias, a Escola Livre de Teatro, uma parceria entre o Grupo Cuíra e o Teatro de Apartamento, apresentou o resultado de seu primeiro curso. Um grupo de dez pessoas, quase todas sem qualquer experiência de palco, apresentou-se por 1 mês. É claro que convidaram amigos e parentes. O mais incrível é que a maioria, nunca havia assistido a uma peça de teatro. Vocês precisavam olhar para suas expressões, sua curiosidade, a mágica ali, sendo feita a alguns poucos metros, sem uma tela de tv como intermediária. O grupo, que saiu, quer prosseguir e procura salas onde se mostrar. Bem vindo ao clube. Eu faço parte. Sei que depois de “Pssica”, muita gente passou a me conhecer como escritor, mas dependendo do público, sou invisível, desconhecido. Posso ter feito um brilhareco na frança e no sudeste, mas aqui, na minha terra, sou igualzinho a qualquer outro escritor local, querendo ser lido e tendo meus livros vendidos somente em uma livraria, a fox. Serginho Cunha, eu te compreendo. Vai na boa, faz sucesso, não esquece da gente. Mas essa nossa desgraça vai acabar depois das eleições.

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