sexta-feira, 6 de julho de 2018

APROVEITAR A JUVENTUDE

Danuza Leão escreve crônicas dominicais em um dos jornais cariocas. No último domingo, citou uma frase do grande historiador Pedro Nava: Todas as pessoas, entre 18 e 25 anos, não deviam fazer nada a não ser aproveitar a vida. Fiquei pensando a respeito. É claro que isso é impossível em nossa sociedade atual e, falando especificamente da classe média, que consegue pagar colégios e faculdades a seus filhos. As pessoas mais pobres simplesmente nem vão às escolas e quando vão, nada de Educação recebem de proveitoso. Sem nenhum horizonte ou preparo, ingressam em carreiras criminosas ou vivem de “bicos”, camelôs. E sim, penso que os garotos da classe média, deviam, todos, talvez, voltar ao primário para aprender de verdade a ler, escrever, multiplicar, dividir e somar. Devido a gestões desastrosas, temos algumas gerações completamente perdidas, o que nos garante um futuro, como nação, sombrio. Os que podem estudar, aos 15 anos, já são forçados a escolher profissão e enfrentar o vestibular ou as outras maneiras de entrar nas universidades, isso porque no Brasil, além de tudo, se não for doutor, com pós graduação e que tais, não se vale nada. Sinto que digressionei. Queria escrever sobre a beleza de desfrutar da vida, entre 18 e 25 anos, quando todos somos jovens, românticos, sonhadores e o mundo se apresenta com mil planos. Em alguns países da Europa, após concluir o segundo grau, os jovens têm um ano de folga para viajar, conhecer outros lugares e escolher suas carreiras. Já é alguma coisa. Comecei cedo. Aos 18 já havia escrito peça, trabalhava em rádio e já era compositor da ala do Quem São Eles. Mesmo assim, poderia ter feito muito mais. Trabalhava. Muito. Não podia dizer não a nenhuma oferta. Casei cedo, havia filho. Havia o jornal Zeppelin, a loja 33 ¼ e a fundação da Rádio Cultura do Pará OT. E veio meu primeiro livro com poemas, “Navio dos Cabeludos”. E mesmo assim eu já lia todos os jornais, revistas e livros que podia. Assistia às sessões das sextas feiras no Cine Palácio e ouvia a produção musical de Caetano, Gil, Chico, Milton, desculpem aí. As informações eram difíceis de obter. Radiofotos, revistas enviadas por amigos e discos que passávamos meses ouvindo, uma por uma das músicas, sem a sofreguidão de hoje. Mas o que fazer, entre 18 e 25 anos, com tempo e digamos, algum dinheiro, para conhecer o mundo, ler, assistir, ouvir e principalmente, namorar? O mundo ficou pequeno com a internet. Visitamos os grandes lugares através das telas, mas desculpem, somos humanos e nada como estar lá, pessoalmente, sentindo na pele e na sensibilidade a grandeza dos grandes monumentos. Alguém foi para a Índia aprender a meditar. Outro para a África, alguém para a Europa, Estados Unidos, Chile, Panamá, sei lá. Alguém para percorrer o Brasil, esse nosso país que é, na verdade, a reunião de vários países unidos apenas por uma língua. Eu jogaria futebol quase todos os dias. Assistiria a todos os filmes, leria os livros, iria às exposições. E depois dos 25, que tipo de cidadãos poderíamos ser? Meu amigo está completando 40 anos. Lembrei de mim próprio. Meu pai entrou em minha sala, me cumprimentou pelo aniversário e percebeu que estava melancólico. Qual a razão? Respondi que era por ter entrado nos “enta”e não sair mais. Ele pensou um pouco e me disse: pois eu era tão jovem quando tinha 40 anos! Nunca esqueci. Foi uma lição. Mas quando lembro da fase entre 18 e 25, as dúvidas, a luta do trabalho, a respiração através da arte, penso que Pedro Navas, utopicamente, tinha razão.

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